sábado, 20 de dezembro de 2014

Quando nasce um bebê



Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também. E um polvo. Um restaurante delivery. Uma máquina de chocolate prontinho. Uma mecânica de carrinhos de controle remoto. Uma médica de bonecas. Uma professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre. Nasce uma fábrica de cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro. E principalmente: nasce a fada do beijo.
Quando nasce um bebê, nasce também o medo da morte - mães não se conformam em deixar o mundo sem encaminhar devidamente um filho.
Não pense você que ao se tornar mãe uma mulher abandona todas as mulheres que já foi um dia. Bobagem. Ganha mais mulheres em si mesma. Com seus desejos aumentam sua audácia, sua garra, seus poderes. Se já era impossível, cuidado: ela vira muitas. Também não me venha imaginar mães como seres delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém segura. Se antes eram incapazes de matar um mosquito, adquirem uma fúria inédita. Montam guarda ao lado de suas crias, capazes de matar tudo o que zumbir perto delas: pernilongos, lagartas, leões, gente.
Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto. Aprendem a pilotar o avião em pleno voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca tenham sido exemplo. Cobrem seus filhos com o cobertor que lhes falta. E, não raro, depois de fazerem o impossível, acreditam que poderiam ter feito melhor. Nunca estarão prontas para a tarefa gigantesca que é criar um filho - alguém está?
Mente quem diz que mãe sente menos dor - pelo contrário! Ela apenas aprende a deixar sua dor para outra hora. Atira o seu choro no chão para ir acalentar o do filho. Nas horas vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha. Encontra os amigos. Lê - ou adormece com um livro no rosto. E, quando tem tempo pra chorar - cadê? -, passou. A mãe então aproveita que a casa está calma e vai recolher os brinquedos da sala. Como esse menino cresceu, ela pensa, a caminho do quarto do filho. Termina o dia exausta, sentada no chão da sala, acompanhada de um sorriso besta. Já os filhos, ah Filhos fazem a mãe voltar os olhos para coisas que não importavam antes. O índice de umidade do ar. Os ingredientes do suco de caixinha. O nível de sódio do macarrão sem glúten. Onde fica a Guiné-Bissau. Os rumos da agricultura orgânica. As alternativas contra o aquecimento global. Política. E até sua própria saúde. Mães são mulheres ressuscitadas. Filhos as rejuvenescem, tornando a vida delas mais perigosa - e mais urgente.
Quando nasce um bebê, nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a estrada quando não há caminho, só para poder indicar: É por ali, filho, naquela direção.

Cris Guerra

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Mãe Humana no Abraço Eterno de Deus

Como vocês podem perceber, há mais de seis meses não publico uma só letra no blog.
Nesse tempo muita coisa aconteceu, mas o que me levou realmente a perder as palavras foi a perda da minha mãe.
Mamãe se foi no dia 29 de maio deste ano, de uma maneira muito rápida (apesar dos longos anos de limitação por conta da DPOC). Não esperávamos! Fomos pegos de surpresa! Passei a noite no hospital com ela e cheguei a ter a ilusão de que logo voltaria pra casa. Em pouco mais de 30 horas a contar da sua internação ela foi se 'apagando' até que o cansaço acumulado de tanto tempo de luta a venceu.
Nunca senti uma dor assim! Perdi o chão, perdi o ar, perdi Deus de vista... Senti verdadeiramente o "abraço esmagante" de Deus, Sua "ausência torturante", uma "dor incomparável, consolo inestimável"... E, por um instante, cheguei a pensar a não voltar a abrir os olhos. Nesse dia completavam-se 11 meses que a vovó tinha falecido (você pode ler sobre esse dia aqui) e uma ferida ainda maior se abriu no meu peito.
Mamãe foi enterrada no dia em que ela e papai completariam 33 anos de casamento e, no dia seguinte, 31 de maio, eu completei 32 anos de vida.
Não conhecemos os planos de Deus, mas alguns meses antes de mamãe falecer, consegui fechar a compra da casa que minha avó morou durante muitos e muitos anos, desde a infância da minha mãe e dos meus tios. Essa casa fica a poucos metros da casa da mamãe. Enfim eu poderia fazer-lhe companhia, estar mais presente, deixar as crianças curtirem mais a vovó. E marcamos a mudança justamente para o dia 31 de maio; seria o meu presente de aniversário.
Quando recebi a notícia de sua morte, no hospital, eu só conseguia pensar: "Agora não! Agora eu vou cuidar mais dela! Logo agora que consegui vir pra mais perto?! Por que??? Por que???" E, mesmo com o coração em frangalhos, mesmo sem esperança, mesmo com toda dor - que chegava a ser física - fizemos a mudança.
O tempo foi passando... O Senhor foi me consolando através do amor do meu pai, do meu irmão, do meu marido, dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos...
Pude viver, mais intensamente esse consolo de Deus no último fim de semana em um retiro espiritual. Deixei casa, marido e filhos pra trás por três dias e fui para o Congresso das Novas Comunidades da minha Diocese. Justamente nesse fim de semana em que mamãe estava completando 6 meses em que foi ao encontro do Pai.
A mamãe já não podia frequentar a Santa Missa há algum tempo por conta do transtorno em carregar cilindros de oxigênio que nem sempre duravam a Celebração inteira, mas recebia semanalmente a Eucaristia em casa. Engraçado como que, mesmo assim, sempre é na Celebração Eucarística que mais sinto falta da sua presença; penso que essa seja a Comunhão dos Santos. Pois bem, durante a minha ação de graças, na missa de abertura, enquanto sentia sua falta e a saudade invadia meu coração, pude ouvir claramente o Senhor me dizer: "Alegra-te, ela está comigo!" O meu coração se acalmou e os meus olhos não conseguiam segurar tantas lágrimas. O purgatório passou. Quem sou eu pra conhecer os mistérios de Deus? Mas, naquele instante, eu tive a certeza de que ela estava lá, à minha espera e, enquanto esse dia não chega, continua intercedendo e zelando por mim, sua filha, e por nossa família.

Creio no Espírito Santo,

na Santa Igreja Católica,

na comunhão dos Santos,

na remissão dos pecados,

na ressurreição da carne,

na vida eterna.

Amém.

Missa de abertura do IV CDNC

sexta-feira, 23 de maio de 2014

As bênçãos de uma família numerosa

Eu nasci numa família de nove irmãos. Perto da minha casa, morava um tio, que tinha quinze filhos. Um pouco mais longe, morava o senhor Guatura com seus 24 filhos e mais um adotivo. Era assim há uns cinquenta anos. E que festa era! Faltava bola para jogarmos futebol no quintal; então, fazíamos bolas de pano.
No aniversário de cada filho, bastava convidar os primos para a casa já ficar cheia. Minha mãe fazia um delicioso “pão de ló” coberto com suspiro. Era o manjar dos deuses! Cada um tinha o direito – só naquele dia – de tomar um guaraná “caçula”. Para acabar devagar, pedíamos ao papai para fazer um furinho na tampa. Que tempo bom!

Não tínhamos quase nada, só um rádio. Não havia TV, internet, fogão a gás, geladeira, batedeira, freezer, nem micro-ondas, mas não nos faltava nada, havia muitos irmãos e muito amor.

É por isso que o Catecismo da Igreja diz que “a Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem, nas famílias numerosas, um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais” (n.2373). E ainda: “O filho não é algo devido, mas um dom. O dom mais excelente do matrimônio e uma pessoa humana” (§ 2378).

Ora, se Deus diz, pela boca da Sua Igreja, que “os filhos são o dom mais excelente do matrimônio”, então, dentro dessa lógica, quanto mais filhos melhor. Ninguém rejeita um dom de Deus, certo? Nunca vi alguém rejeitar um presente. É por isso que, no altar, o padre pergunta aos noivos: “Prometem receber os filhos que Deus lhes enviar, educando-os na fé de Cristo e da Igreja”?

Bem, sabemos que o mundo mudou muito nesses cinquenta anos.
A vida ficou mais cara e os pais têm mais dificuldades para criar e educar os filhos. Mas não há justificativa para irmos ao outro extremo, pois há muitos casais que já não querem ter filhos ou adiam o nascimento destes por muitos motivos.

Todos os países da Europa já estão com a população diminuindo, e muitos deles fazendo fortes campanhas para aumentar a natalidade. O Japão, por exemplo, está investindo três bilhões de ienes para fomentar o nascimento de mais crianças.

O Brasil tem somente 20 pessoas por km2, enquanto o Japão tem 330; dezesseis vezes mais. E eles querem aumentar a população, pois esta está envelhecendo. E o Brasil quer diminuí-la.

A Igreja ensina que cada casal deve viver segundo a “paternidade responsável”, isto é, deve ter todos os filhos que puder criar adequadamente. O critério de natalidade não deve ser o egoísmo, o medo ou o comodismo, mas o amor a Deus e ao filho, “o dom mais excelente do matrimônio”. Num casal cristão não pode faltar “a fé que move montanhas”. A Bíblia diz que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6) e que o “justo vive pela fé” (Rom 1,17, Hab 2,4). Hoje faltam filhos porque falta fé.

Quanto maior uma família tanto mais alegria há nela. Como é gostoso, nos fins de semana, os cinco filhos, o genro e as quatro noras, mais os onze netos! É uma festa que não tem preço! É claro que tudo isso custou caro, muito trabalho, suor e lágrimas. Mas é uma festa contínua. Só quem dela participa sabe o seu significado.

Nós damos valor a uma família grande sobretudo na hora da dor e do sofrimento, quando todos se juntam para ajudar aquele que sofre. Como foi bom ver meus filhos e noras acompanhando, todos os dias, em revezamento, a minha esposa no hospital, em São Paulo, em um mês de internação, antes de Deus a chamar! Como é bom compartilhar as alegrias e as lágrimas com aqueles que têm o nosso sangue!

Portanto, mesmo com as dificuldades da vida moderna, o casal deve, na fé, não negar a Deus os filhos que puder ter. Afinal, o Catecismo diz que “os pais devem considerar seus filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas” (§2222).

A maior glória que podemos dar ao Senhor é gerar um filho, pois nada neste mundo é tão grande e belo quanto ele. A nossa liturgia reza que “tudo o que criastes proclama o Vosso louvor”. Pode a criação dar mais glória a Deus do que quando surge uma vida humana? Um cientista disse que “o Cosmos chorou quando viu o homem surgir”.

Infelizmente, caiu sobre o mundo todo um pavor estranho, um medo enorme de ter filhos; mas o casal cristão não deve se deixar levar pelo pânico de muitos ecologistas exagerados e de outros catastrofistas de plantão.


 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Nunca é tarde para deixar de gritar

Li esse texto e logo pensei: "Nossa! Não sou a única!" até a metade. Do meio pra frente só me veio no coração o pensamento: "Meu Deus, dá-me essa sabedoria!"
Compartilho-o com vocês, porque nunca é tarde para deixar de gritar.


Guardo com carinho os bilhetes que recebo de minhas filhas, quer sejam rabiscados com canetinha colorida sobre post-it ou escritos com letra perfeita sobre papel pautado. Mas o poema de Dia das Mães que ganhei na primavera passada de minha filha mais velha me causou impacto profundo.
Foi o primeiro verso que me deixou com a respiração presa na garganta, até que lágrimas quentes escorreram por meu rosto.
O importante da minha mãe é... que ela está sempre ao meu lado, mesmo quando me meto em problemas.
Sabe o que é... Nem sempre foi assim.
No meio de minha vida altamente cheia de distrações, iniciei uma nova prática que é completamente diferente de como eu me comportava até então. Virei gritadora. Não era frequente, mas era extremo --como um balão que está cheio demais, estoura de repente e dá um susto em todas as pessoas em volta.
O que havia nas minhas filhas, então com 3 e 6 anos, que me fazia perder a compostura? Era que ela insistia em sair correndo para buscar mais três colares de contas e seus óculos de sol cor-de-rosa favoritos quando já estávamos atrasadas? Que tentava colocar o cereal no prato, sozinha, e derramava a caixa inteira sobre o balcão da cozinha? Foi o fato de ela ter deixado cair no chão e se espatifar meu anjo especial de vidro, depois de eu ter dito para não tocar nele? Foi que ela resistia ao sono a qualquer custo na hora em que eu mais precisava de paz e tranquilidade? Era o fato de as duas brigarem por coisas ridículas, como qual seria a primeira a sair do carro ou quem ficaria com a colherada maior de sorvete?
Sim, eram essas coisas -- probleminhas normais e atitudes infantis típicas que me irritavam ao ponto de me fazer perder o controle.
Não é fácil escrever essa sentença. E não é fácil recordar aquela fase de minha vida, porque, a verdade seja dita, eu me odiava naqueles momentos. O que tinha acontecido comigo que me levava a gritar com as duas pessoinhas preciosas que eu amava mais que a própria vida?
Deixe eu lhe contar o que tinha acontecido comigo.
Minhas distrações.
Uso excessivo do telefone, excesso de compromissos assumidos, múltiplas páginas de listas de tarefas a cumprir, a busca da perfeição, tudo isso me consumia. E gritar com as pessoas que eu amava foi o resultado direto da perda de controle que eu estava sentindo em minha vida.
Inevitavelmente, eu tinha que desabar em algum lugar. Então desabei a portas fechadas, na companhia das pessoas que significavam mais para mim.
Até um dia fatídico.
Minha filha mais velha tinha subido num banquinho e estava tentando alcançar alguma coisa na copa quando acidentalmente derrubou um saco inteiro de arroz no chão. Enquanto uma chuva de um milhão de grãos de arroz se espalhava sobre o chão, os olhos de minha filha se encheram de lágrimas. E foi então que vi -- vi o medo nos olhos dela, enquanto se preparava para ouvir a reação irada de sua mãe.
Ela está com medo de mim, pensei, e foi o insight mais doloroso imaginável. Minha filha de 6 anos de idade está com medo de minha reação ao erro inocente dela.
Com pesar profundo, percebi que não era essa a mãe com quem eu queria que minhas filhas crescessem, e que não era assim que eu queria viver o resto de minha vida.
Algumas semanas depois daquele episódio, tive meu momento de revelação -- meu momento de conscientização dolorosa que me impeliu a empreender uma jornada para me livrar das distrações e agarrar o que importava de fato. Isso aconteceu três anos atrás -- três anos de redução gradual do excesso e das distrações eletrônicas em minha vida. Três anos me libertando do padrão de perfeição inalcançável e da pressão social para "dar conta de tudo". À medida que fui me liberando de minhas distrações internas e externas, a raiva e o estresse acumulados dentro de mim se dissiparam, pouco a pouco. Carregando um peso mais leve, fui capaz de reagir aos equívocos e travessuras de minhas filhas de maneira mais calma, compassiva e razoável.
Eu dizia coisas como: "É apenas uma calda de chocolate, nada mais. Você pode passar um pano, e o balcão ficará novinho em folha."
(Em vez de soltar um suspiro de exasperação, completando com uma revirada de olhos.)
Eu oferecia segurar a vassoura enquanto ela varria um mar de sucrilhos que cobria o chão.
(Em vez de ficar em pé diante dela com um olhar de desaprovação e aborrecimento total.)
Eu a ajudava a pensar onde poderia ter deixado seus óculos.
(Em vez de criticá-la por ser tão irresponsável.)
E nos momentos em que a pura e simples exaustão e os choramingos incessantes estavam prestes a me tirar a calma, eu entrava no banheiro, fechava a porta e me dava um momento para soltar o ar e me lembrar que elas eram crianças, e que crianças cometem erros. Exatamente como eu.
Com o tempo, o medo que antes aparecia nos olhos de minhas filhas quando se metiam em problemas desapareceu. E, graças a Deus, eu virei um refúgio para elas nos momentos de dificuldades, em vez de ser a inimiga de quem precisavam fugir e se esconder.
Não sei se eu teria tido a ideia de escrever sobre esta transformação profunda, não fosse pelo incidente que aconteceu quando eu estava terminando o manuscrito de meu livro. Naquele momento, senti o gostinho da vida me derrubando, e a vontade de berrar estava na ponta de minha língua. Eu estava chegando aos capítulos finais e meu computador travou. De repente, as correções feitas em três capítulos inteiros sumiram diante de meus olhos. Passei vários minutos tentando freneticamente reverter para a versão mais recente do manuscrito. Quando isso não funcionou, consultei o backup Time Machine, mas descobri que também ele tinha apresentado um erro. Quando percebi que eu não recuperaria jamais o trabalho que tinha feito sobre aqueles três capítulos, tive vontade de chorar -- mas, ainda mais que isso, de ficar furiosa.
Mas eu não podia, porque era hora de buscar as meninas na escola e levá-las no treino de natação. Com muito autocontrole, fechei meu laptop calmamente e me fiz lembrar que poderia haver problemas muito, muito piores que reescrever aqueles capítulos. Então disse a mim mesma que não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer naquele momento.
Quando minhas filhas entraram no carro, perceberam imediatamente que havia algo de errado. "O que foi, mamãe?" perguntaram em uníssono, depois de um olhar para meu rosto pálido.
Tive vontade de berrar: "Acabei de perder um quarto de meu livro!"
Tive vontade de socar a direção do carro, porque o último lugar onde eu queria estar naquele momento era no carro. Eu queria ir para casa e consertar meu livro, não levar crianças para a natação, torcer maiôs molhados, pentear cabelos emaranhados, fazer o jantar, lavar louça suja e colocar as crianças na cama.
Mas, em vez disso, falei com calma: "Está um pouco difícil para mim falar neste momento. Perdi parte de meu livro. E não quero falar, porque estou muito frustrada."
"A gente sente muito", disse a mais velha, falando pelas duas. E então, como se soubessem que eu precisava de espaço, fizeram silêncio até chegarmos à natação. As meninas e eu fizemos as coisas do nosso dia, e, embora eu tenha ficado mais silenciosa que de costume, não gritei e me esforcei ao máximo para não pensar no problema do livro.
Finalmente, o dia estava quase no fim. Ajeitei as cobertas em volta de minha filha menor e me deitei ao lado da minha filha maior para nossa "hora de bate-papo" de todas as noites.
"Você acha que vai conseguir os capítulos de volta?", minha filha perguntou.
Foi quando comecei a chorar. Não tanto pelos três capítulos, eu sabia que poderiam ser reescritos. Chorei mais pela exaustão e frustração de escrever e editar um livro. Eu tinha estado tão perto do final. Ter aquilo arrancado de mim de repente era incrivelmente decepcionante.
Para minha surpresa, minha filha esticou a mão e fez um carinho suave no meu cabelo. Disse coisas tranquilizadoras, como "computador pode ser tão frustrante!" e "eu poderia dar uma olhada no Time Machine e ver se dou um jeito no backup". E depois, finalmente, "Mamãe, você dá conta disso. Você é a melhor escritora que conheço" e "vou te ajudar de qualquer jeito que eu puder".
Em minha hora de dificuldade, ela estava ali, paciente, compassiva, me encorajando, alguém que não sonharia em me chutar quando eu já estava no chão.
Minha filha não teria aprendido essa reação de empatia se eu tivesse continuado a ser gritadora. Porque gritar fecha a comunicação, corta o laço. Leva as pessoas a se distanciarem, em vez de se aproximarem.
O importante é que ... Minha mãe está sempre ao meu lado, mesmo quando me meto em problemas.
Minha filha escreveu isso sobre mim, a mulher que passou por uma fase difícil, da qual ela não se orgulha, mas com a qual aprendeu. E, nas palavras de minha filha, enxergo esperança para outros.
O importante é... Que não é tarde para deixar de gritar.
O importante é ... Que as crianças perdoam -- especialmente se vêem a pessoa que amam se esforçando para mudar.
O importante é... Que a vida é curta demais para perdermos a calma por causa de cereal derrubado ou sapatos que você não sabe onde deixou.
O importante é... Não importa o que tenha acontecido ontem, hoje é um novo dia.
Hoje podemos optar por uma reação pacífica.
E, fazendo isso, podemos ensinar a nossos filhos que a paz constrói pontes --pontes que podem nos levar até o outro lado em momentos de dificuldade.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

"Vestido de Noiva" - por Emmir Nogueira



     Não! Este artigo não trata da famosa peça de Nelson Rodrigues com o mesmo nome. Pelo contrário. Falo de outro vestido, de outra noiva, de outra mentalidade. Falo de uma foto. Em primeiro plano, a noiva. Vestido simples, sem bordados. Grinalda simples e longa. Bouquet simples, poucas flores, todas brancas. Maquiagem imperceptível. Incrivelmente bonita, já que, não fosse por sua expressão de alegria interior, seria uma pessoa feia. Sorriso imenso, feliz, tem o braço direito estendido um pouco ao alto, como a mostrar o bouquet. Sob o vestido, quase sem querer, aparece o pé esquerdo, a denunciar um gesto meio de dança, meio de brincadeira, como quem está a fazer uma reverência. Isso mesmo. Foi uma foto espontânea, não posada. Em segundo plano, um garoto. Daqueles simples, talvez um convidado intruso. Meio de costas para a noiva, parece que só está ali para denunciar: é verão! Mangas curtas, calças curtas, pernas inteiramente desnudas. Não há dúvida, é verão. O menino cumpriu sua missão. Aparece ali não porque é pajem, irmão, padrinho ou convidado. Aparece somente para dizer: “Vejam, é verão!”
      Você há de se estar perguntando: e o que seria tão importante acerca do verão para justificar uma missão especial para o intrometido? É que a noiva, em primeiro plano, sim, a noiva da foto – pasme! – está de mangas (sim, seu vestido tem duas mangas!) compridas. Daquelas que vêm até o pulso. E veja que não são transparentes. O decote – pasme, novamente – é rente ao pescoço. Tudo é tão especialmente diferente do que hoje chamamos de noiva que cada detalhe chama atenção. O maior dos detalhes, porém, transcende a foto: a noiva da foto é uma santa. Santa Gianna, recém casada com o seu Pietro, a sonhar, alegremente, com os seus quatro tesouros que haveriam de vir.

     Ao contemplar esta foto, meus pensamentos vieram como uma onda após a outra. Primeiro: “Puxa, como ela primou pela exaltação da castidade, da virgindade!” Segundo: “Ela já era santa!” (como se santos se fizessem em um estalar de dedos). Terceiro: “Já pensou se o vestido dela fosse sem mangas, sem ombros, sem nada acima da linha dos seios, sem exaltar a castidade? Já pensou se as costas fossem nuas até a cintura, a maquiagem carregada, a grinalda como a coroa da rainha de Sabá? Já pensou se o vestido fosse um brilho só, se o bouquet lhe fosse até os pés? Como é que a gente ia ter coragem de mostrar o retrato da santa?” Quarto: “Bom, a gente ia dizer que ela tinha se convertido depois e que só depois tinha aderido à castidade”. Quinto: “Valha-me Deus, como foi meu vestido de noiva?”
     Pois é. A santa, vestida de noiva, exaltava a castidade em seu vestido de mangas compridas apesar do pleno verão italiano. Exaltava aí e exaltaria depois, durante toda a sua vida de casada, como se vê pelas cartas que troca com o seu Pietro. Esta santa não diria que no quarto do casal, entre quatro paredes, tudo é permitido. Esta, não pensaria em transformar seu leito conjugal em um leito de motel. Não pensaria em usar roupas íntimas pornô para excitar o seu Pietro. Não pensaria em preservativos ou comprimidos anticoncepcionais. Não pensaria em laqueadura de trompas aquela que não pensou em retirar seu feto para livrar seu útero.
     Posso estar errada. Mas hoje, quando vejo as noivas desnudas, maquiadas como atrizes de tv, a arrastar seus caríssimos e quilométricos bouquets, a se esbaldarem de beber em suas festas de casamento, não posso deixar de pensar o que consideram castidade conjugal, em que seriam capazes de transformar seus leitos, suas alcovas conjugais, como se dizia antigamente. Não posso deixar de me perguntar em que estariam dispostas a transformar suas famílias, seus corpos e os corpos dos seus maridos. Não estou certa de que conotação dariam a este possessivo “seu”: “seu” marido, “seu” leito, “seu” quarto, “seu” filho. Temo que, distorcidas as ideias, viriam a dizer que, sendo seu o corpo e seu o filho, sendo seu o leito e seu o marido, podem dispor deles como bem quiserem. E isso seria o avesso do vestido da noiva da foto e de tudo o que, canonizando-a, a Igreja nos quer dizer.

terça-feira, 29 de abril de 2014

domingo, 6 de abril de 2014

Se meu apartamento falasse…


          Ainda não nos mudamos, mas cada passo dentro dessas paredes apertadas, apertam também nosso coração, nesse nossos últimos dias aqui.
          Sei que o que Deus tem preparado para nós na casa nova é muito mais do que um dia pudemos imaginar. Mas não posso esconder o quanto meu coração chora em deixar pra trás esse presente maravilhoso que Deus nos deu às vésperas do nosso casamento.
          Entrem no link abaixo e leiam o texto que meu marido postou em seu blog.
          Obrigada, meu amor, pelas lindas palavras que expressão tão bem nosso sentimento nesses dias. Te amo, meu Camponês!!!

Se meu apartamento falasse…




domingo, 30 de março de 2014

Cotidiano de um Camponês

Casar, constituir família, ser responsável, criar os filhos na lei de Cristo e da Igreja não é tarefa fácil. Cada passo, cada decisão precisa ser tomada com discernimento, na oração, na reflexão. Quantas renúncias são necessárias? Quantos sacrifícios... Quando falo de filosofia e literatura, muitos queixam-se de que não entendem o que escrevo, posto, falo. Sei que sou até tachado de chato. Mas é somente sobre isso que discurso: a vida que vivo, minha família, o amor por minha esposa, a educação dos meus filhos, o destino de minha alma, a amizade dos meus amigos, minha vocação. Filosofia e literatura - e política! - versam sobre isso. Não sou melhor do que ninguém, nem mesmo sou um intelectual, mas ainda acredito, como Sócrates, que uma vida que não é examinada não merece ser vivida.

Sou por acaso um boi para ir vivendo e ruminando a vida como se não fosse filho de Deus? Vejo pessoas vivendo de acordo com seus gostos e instintos, postando zilhões de coisas interessantíssimas, mas que só apontam para esta terra. Que não procuram entender o mundo a sua volta, não procuram o sentido por detrás de tudo o que lhes acontece. Viram massa de manobra, manada, rebanho na mão dos piores.

Eu também gostaria de ter uma vida materialmente melhor. No entanto, a cada passo, a cada momento solitário de reflexão e oração, percebo que o caminhar pelo deserto é necessário (sempre me lembro do conselho de um amigo: "a cruz é necessária"), que o amor supõe sacrifício, que não há sabedoria sem virtude e não há virtude sem renúncia e que para que todos aqueles que Deus nos confiou conheçam o princípio da felicidade é necessário que eu me comprometa. Enquanto muitos lutam "por um mundo melhor" e outros por uma "vida feliz", cabe àqueles que ouviram uma voz clamar no deserto a alegria de viver segundo o coração de Deus.

Hoje é o Domingo "Laetare"... conhecido como o "Domingo da Alegria" ou "Domingo da Rosa". Só há alegria no amor. E não há amor maior do que dar a sua vida pelos seus amigos.

Sua vida é um dom precioso do céu? Então trate de vivê-la como um 'filósofo', como aquele que vive com consciência, que sabe que o que tem nas mãos não é um passatempo, mas matéria de salvação.

Existe um filme de Federico Fellini, La Strada, em que o protagonista passa todo o filme de cabeça baixa, sem jamais olhar para o alto, vivendo uma sucessão de desgraças e que na cena final, olha para o céu. Um gesto simbólico, que redime uma vida inteira. Nossa vida ainda não está na cena final, mas como Boécio, que escreveu sua "A Consolação da Filosofia" na prisão, aguardando o martírio, estamos todos condenados à morte. Aliás é São Bento quem diz que ter a morte todos os dias diante dos olhos é uma excelente pedagogia. Filosofia, literatura, política e religião são sobre isso. Olhar para a vida, olhar para o mundo, olhar para o alto.

Um ótimo Domingo da Alegria para todos nós.

Palavras de um pai humano em sua timeline no facebook.

MEU Camponês <3

sexta-feira, 28 de março de 2014

Carreira X Família ~ Que decisão tomar?

A paulistana Luciana Zerwes Tremblay, de 34 anos, trabalhava das 9 horas às 18 horas na empresa de distribuição de medicamentos da qual é sócia. Há nove meses, ela abandonou o escritório. Faltavam cerca de 30 dias para o nascimento de Brian, seu terceiro filho. Luciana pretendia voltar à ativa depois de cumprir a licença-maternidade. Aos poucos, mudou de idéia. “Deixar o trabalho foi uma decisão difícil. Passei meses pensando nisso até perceber que, com três filhos pequenos, ficaria complicado conciliar carreira e maternidade”, afirma. Além de Brian, Luciana tem os gêmeos Kevin e Clara, hoje com 2 anos e 3 meses. “Quando eles nasceram, tentei me dividir, ficando na empresa meio período. Mas vi que assim não cuidava deles nem trabalhava direito.” A escolha de Luciana está longe de ser uma exceção. Mais de metade das brasileiras que têm filhos e trabalham fora gostaria de largar o emprego e passar todo o tempo com as crianças, segundo a pesquisa Mães Contemporâneas/2006, do Ibope. Nos Estados Unidos, a nação onde as batalhas feministas mais influenciaram as relações de trabalho no mundo, a taxa de mães com emprego sofreu uma reversão. Durante 22 anos, o número de mães que trabalham fora cresceu. A partir de 1998, passou a cair. Em 2005, 5,6 milhões de mães americanas deixaram o emprego para cuidar dos filhos – 1,2 milhão a mais que dez anos antes.

O que está mudando? Há apenas duas décadas, no Brasil, a entrada maciça de mulheres no mundo do trabalho transformou radicalmente a economia. O principal motivo foi a necessidade: a crise econômica da década de 80 empurrou as mulheres para o trabalho. Mas a cultura já havia sofrido uma revolução. Elas passaram a encarar a realização profissional como um direito. E a família tinha de ser repensada. O que parece estar ocorrendo agora é uma nova reviravolta na escala de valores da sociedade.

“Ficar em casa cuidando das crianças virou um novo símbolo de status”, afirmam Kellyanne Conway e Celinda Lake no livro What Women Really Want (O Que as Mulheres Realmente Querem), ainda sem tradução no Brasil. Nos anos 80 e 90, caracterizados pelo individualismo e pela competição profissional acirrada, era normal sacrificar a vida pessoal em prol do sucesso – ou aquilo que se considerava sucesso. Nesse modelo competitivo, a busca por resultados tem elevado a carga de trabalho nas empresas e, conseqüentemente, o estresse. Daí começou a ganhar força o discurso oposto, que mistura ecologia, espiritualismo e bem-estar. As mulheres, ainda a meio caminho da plena conquista da igualdade, começaram a se perguntar se ela vale a pena.

‘‘Eu chegava em casa depois das 11 da noite. Meu filho estava dormindo havia horas. Eu morria de culpa’’ MÁRCIA ALVES, 36, contadora
O outro lado da equação entre maternidade e vida profissional são os filhos. Até há pouco, falava-se no “tempo qualitativo” que as mães passavam com eles. Esse conceito vem sendo destroçado. “Isso era uma desculpa. Não existe qualidade sem um mínimo de quantidade de tempo, de conexão, de acompanhamento da rotina”, diz a terapeuta de família Daniela da Rocha Peres, de São Paulo. “Vejo no meu consultório muitas mães executivas que abrem mão de todo s o tempo com os filhos e depois não sabem por que eles estão com problemas. É muito cruel ver mães que nunca levam ou buscam seus filhos na escola, que não conhecem seus amiguinhos, suas questões do dia-a-dia.” Hoje há um consenso entre os psicólogos: a presença da mãe na vida dos filhos é imprescindível. “Estamos num momento de transição dos modelos de mãe – e também de pai”, diz Daniela. “Toda a família se desestrutura quando cada um está no seu trabalho e as crianças estão totalmente terceirizadas. E não podemos ser moralistas e jogar tudo isso no colo das mães só porque historicamente é assim que vem sendo feito. Os pais também precisam participar dessa rotina.”


VOLTA DIFÍCIL
Para cuidar de Maurício, de 11 anos, e Mariana, de 7, Márcia saiu do emprego. Quando tentou voltar ao mercado, estava defasada
O sentimento de perda no âmbito familiar já está produzindo efeitos no mundo do trabalho. “Há mais gente hoje falando sobre uma maior dedicação à maternidade”, diz a consultora de carreira paulista Vicky Bloch. “Muitas mulheres jovens planejam ficar um pouco mais em casa quando os filhos nascerem, para só depois retomar a carreira.” Até há bem pouco tempo, a decisão de trocar a carreira pela dedicação exclusiva à família era percebida como sinal de derrota ou como atestado de despreparo profissional. O que se esperava das mulheres é que fossem bem-sucedidas na carreira e conseguissem, ainda, administrar com perfeição o lar e o tempo com as crianças. A mãe que em nome dos filhos desistisse do trabalho passava por desocupada. A carioca Cátia Moraes sentiu isso na pele. Em 2001, ela escreveu Absolvendo a Cinderela (Editora Mauad). O livro mostra como viviam as mulheres que optavam por ser donas de casa e o preconceito que elas enfrentavam. “Fui muito criticada em chats, recebi dezenas de e-mails me condenando, mas sempre deixei claro: o que eu defendo é a liberdade de opção”, diz Cátia. “Descobri que eu me realizava muito na função de mãe, de acompanhar a vida da minha filha. E garanto que existe, sim, vida inteligente em mães de porta de escola.”

Apenas seis anos depois de Cátia, a administradora de empresas Luciana Zerwes Tremblay fez a mesma escolha. A reação das amigas foi completamente diferente. Nenhuma seguiu o exemplo, mas todas a apoiaram. E sua mãe passou a lhe dar uma mesada. “Estou feliz porque a infância dos meus filhos jamais voltará. Daqui a alguns anos posso voltar a trabalhar, e fazer isso pelo resto da minha vida”, diz Luciana.

Se a complexidade do mundo moderno cria estresse, por outro lado ela também abre oportunidades. Hoje, as carreiras são mais diversas e fragmentadas. A norma é mudar de empresa a cada cinco ou seis anos, e de função a cada três, segundo estudos de consultorias de recursos humanos. Por isso, a interrupção da carreira – mesmo para quem nunca teve filhos – é um fato normal no mundo do trabalho. E isso faz com que a opção de parar por uma causa nobre (cuidar dos pimpolhos) soe menos estranha às mulheres. Em 2002, depois de uma carreira de 15 anos no mercado de design de Belo Horizonte, a mineira Laura Guimarães, de 37, decidiu largar a carteira assinada para ficar em casa com as crianças. A opção obrigou a família a se adaptar a um padrão de vida mais baixo. Mesmo assim, ela diz que não se arrepende. Ter mais tempo livre permitiu a Laura não só cuidar de perto das filhas Nina, de 11 anos, e Gabriela, de 8, como ampliou suas perspectivas profissionais. Laura criou, junto com a amiga Juliana Sampaio, um blog dedicado às mães modernas, o Motherns. Depois da boa repercussão no mundo virtual, as duas tornaram-se consultoras do programa de TV Mothern, já na segunda temporada. Por não ser um emprego tradicional, com horários rígidos, a nova atividade permitiu a Laura conciliar a carreira e os filhos.

Nem sempre essas escolhas dão tão certo. Muitas vezes, o que começa como uma opção temporária – cuidar dos filhos enquanto eles são pequenos – afeta todo o futuro profissional. A carioca Márcia Alves, de 36 anos, é um exemplo.  Formada em Contabilidade e com um emprego que durava dez anos, ela permaneceu em casa as 16 semanas regulamentares da licença-maternidade. Quando retornou à rotina intensa do trabalho, às vezes era obrigada a cumprir jornadas superiores a 12 horas por dia. “Eu chegava em casa depois das 11 horas da noite. Meu filho já estava dormindo havia muito tempo. Morria de culpa.” Ela também fazia plantões nos fins de semana e, devido a uma expansão da empresa, teria de viajar constantemente para São Paulo, ficando mais tempo longe dos filhos. “Quando eu estava no emprego, imaginava como seria bom ter tempo para mim. Hoje, em casa, fico pensando aonde teria chegado se continuasse trabalhando. Não digo que jamais voltarei. A questão é que, quanto maior o tempo afastada, piores as condições.” Ao procurar emprego, Márcia percebeu que teria mais despesas do que seria capaz de suportar com os salários que eram oferecidos. “Eu precisaria de mais uma empregada e gastaria com transporte para as crianças. Nunca valia a pena.”

O que a contadora enfrentou costuma ser a norma. “Empregadores realmente não querem contratar mulheres que ficaram um tempo paradas”, diz Leslie Bennetts, autora do livro The Feminine Mistake (O Erro Feminino) e editora da revista Vanity Fair. “O mercado entende que as pessoas que interrompem a carreira não são habilitadas e estão desatualizadas. Chefes querem atrair quem tenha um currículo consistente. Muitas mulheres sofrem com a dificuldade de se recolocar no mercado.” Em alguns casos, recomeçar a partir de um patamar mais baixo pode ser vantajoso no longo prazo, sobretudo no caso de profissionais capacitadas, que podem recuperar o tempo perdido e voltar a ascender na carreira. Mas nem sempre é assim. As mulheres que retrocedem no campo profissional podem se sentir isoladas, entediadas e cair em depressão.

Para complicar ainda mais a escolha, a corrente de defensores do trabalho feminino, nos Estados Unidos, passou a usar um novo argumento. Não se trata, segundo ela, de uma opção entre carreira e família. A própria segurança familiar é que estaria em jogo quando a mulher desiste de sua profissão. “É um erro a mulher abandonar sua carreira”, diz Leslie Bennetts, autora de Feminine Mistake. “Quando ela perde a independência financeira, fica mais vulnerável a muitos riscos.” Não se trata apenas do divórcio, que faz o padrão de vida das crianças cair. O marido pode morrer. Ou ser demitido. “É crucial a mulher se manter auto-suficiente economicamente”, diz Leslie. “Assim pode garantir a qualidade de vida dela própria e dos filhos.”

“Há muitos elementos que compõem o preço da maternidade”, diz Ann Crittenden, autora dos livros If You’ve Raised Kids, You Can Manage Anything (Se Você Criou Filhos, Pode Gerenciar Qualquer Coisa) e The Price of Motherhood (O Preço da Maternidade). Segundo ela, a dificuldade de deixar o trabalho e retornar mais tarde poderia ser contornada caso o mercado fosse mais flexível. “Empregadores simplesmente não querem contratar mulheres com filhos pequenos. Isso deveria ser contra a lei”, afirma. Para ela, conciliar carreira e maternidade é mais difícil para mulheres que não ocupam altas posições, que não têm poder de barganha e por isso podem ser demitidas sem grandes transtornos para a empresa. “Os empregadores deveriam encarar a maternidade como algo natural. E enxergar que as mulheres querem ter uma vida profissional, não apenas a familiar”, diz Ann Crittenden.

Segundo um levantamento do site americano Salary.com, caso fosse remunerada por todas as horas que trabalha, uma dona de casa nos Estados Unidos deveria receber anualmente US$ 134 mil, algo como R$ 22 mil por mês. O cálculo leva em conta o número de horas dedicado a tarefas como arrumar a casa, cozinhar,  cuidar dos filhos e gerenciar a economia doméstica. Na conta desse salário, foi atribuído um valor para a função de executiva do lar. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, nos países que calculam o serviço das donas de casa como parte da produção de riquezas, ele corresponde a espantosos 60% do PIB. Isso explica, em parte, por que o número de mulheres que trabalham fora vem caindo nos EUA.

Dados do IBGE mostram que a remuneração feminina é 30% inferior à dos homens que ocupam cargos equivalentes. Além disso, a informalidade é maior entre as mulheres. Isso significa que elas não contam sequer com benefícios como a licença-maternidade. A depreciação do trabalho feminino é atribuída a um conjunto de fatores. Embora não admitam abertamente, muitas empresas pagam menos às mulheres pressupondo que elas terão menor comprometimento com o trabalho quando surgirem demandas familiares. Em muitos casos, mães nem são contratadas. Atualmente, uma mulher americana de 30 anos sem filhos ganha o equivalente a 90% do salário de um homem. As que são mães ganham apenas 70%, mesmo com idade e formação equivalentes. Uma explicação para a diferença salarial poderia ser que as mães de família se concentram menos no trabalho e, portanto, produzem menos. Mas isso é falso. Vários estudos concluíram que as mulheres são mais produtivas que os homens.


Como agir quando alguém mostrar preconceito em relação a sua decisão de voltar para casa?
Muitas pessoas – as próprias mulheres, principalmente – se surpreendem negativamente ao saber que uma mulher deixou o trabalho para se dedicar à casa e à família. O ideal é não responder. Fingir que não ouviu ou não entendeu muitas vezes dribla situações estressantes. Se responder alguma coisa for inevitável, pode-se manter o foco na máxima segundo a qual todos têm liberdade para decidir seus rumos. Se foi derrubado um dia o preconceito contra as primeiras mulheres que foram à luta nas ruas, que se derrube também agora o preconceito contra as que optam pela casa.

Estar de volta ao mundo doméstico significa ter de arcar com todas as tarefas do lar?
De modo algum. A idéia de dividir tarefas e responsabilidades (práticas e de decisão) com o marido continua. Claro que, se ele trabalha e a mulher não, ela cuidará de mais coisas. Mas uma casa não é um hotel. O homem deve fazer parte – e as crianças também – de uma divisão justa dessas tarefas.

Você passou muito tempo fora e perdeu o controle de sua casa. O que fazer?
Um grupo inteiro terá de se adaptar à nova rotina. Isso inclui mulher, marido, filhos, empregados domésticos e até mãe e sogra, caso elas tenham sido a tábua de salvação por bastante tempo. A palavra de ordem é: a dona da casa está de volta. Não importa se algo era feito de forma X quando a mulher não estava. Agora ela está em casa e tem o direito de que as coisas sejam feitas a sua maneira. Tudo com o máximo de jeito, é claro. O importante é não ser visita na própria casa.

Qual o risco de interromper a carreira por dois ou três anos?
É possível retomá-la no mesmo patamar, com uma remuneração equivalente? Depende da idade, da área profissional, do nível de formação e da experiência anterior. Mas a resposta é: não será fácil. Ficar longe dois ou três anos, na maioria dos casos, é afastar-se da prática profissional e dos avanços tecnológicos. Se surgir uma oportunidade, provavelmente a remuneração não será equivalente ao momento em que a mulher parou. Uma dica: quem quer mesmo voltar deve aceitar recomeçar por um pouco menos. Qualquer porta de entrada pode ser importante.

Quando os filhos crescerem, a mãe corre o risco de sentir-se inútil em casa?

Se as crianças foram o único foco real por anos, é natural que haja um vazio depois que elas crescerem e se tornarem mais independentes. Não se devem jogar essas frustrações em cima delas, tentando manter a interferência em suas vidas. Quando a mãe manteve atividades e interesses ao longo desse tempo, será mais fácil intensificá-los para compensar a “perda” dos filhos. Mesmo que não tenha mantido outros interesses, nunca é tarde para buscar algo que lhe dê prazer.

Fonte: Época

meu primeiro dia de trabalho após a licença maternidade de Clara

segunda-feira, 10 de março de 2014

Como a ordem de nascimento afeta a personalidade dos irmãos



Você vai fazer uma viagem de carro com seus irmãos adultos. Qual desses três cenários mais se parece com você?
1. Você vem planejando a viagem há semanas, já cuidou das reservas de hotel e restaurante, trocou o óleo do carro e encheu o tanque. E até já mapeou as paradas para descanso ao longo do caminho.
2. Você passou a manhã na correria, tentando aprontar tudo. No final, jogou lanches e roupas na mala de qualquer jeito, na última hora. Se é você quem vai dirigir, está torcendo para encontrar um posto na estrada e encher o tanque, que está pela metade.
3. Viagem em família? Vai ser divertido! Você aceitou o convite porque vai ser uma curtição e não planejou contribuir com nada, exceto suas piadas e historinhas divertidas. Você curte os lanches que seus irmãos mais velhos trouxeram. Percebe que talvez precise comprar um agasalho mais apropriado quando vocês chegarem ao destino.

Se você se identifica com o cenário nº 1, é provável que seja o filho primogênito.

Se o segundo cenário o descreve bem, você é provavelmente o filho do meio.

Você se identifica mais com o cenário nº 3? O mais provável é que seja o caçula.

A ordem de nascimento faz diferença

Alguns pesquisadores consideram a ordem de nascimento tão importante quanto o gênero e quase tão importante quanto questões genéticas. É a velha história da natureza versus criação. Em minha experiência de educadora e pesquisadora, sei que não existem dois irmãos que tenham os mesmos pai e mãe, mesmo que vivam na mesma família. Por que? Porque os pais são diferentes com cada um de seus filhos, e não há dois filhos que desempenhem o mesmo papel. Por exemplo, se você é o filho cuidador, o papel de cuidador já terá sido tomado, e seu irmão escolherá outro papel para exercer na família, talvez o do realizador.

Somos pais diferentes com cada filho

Como pai ou mãe, você se lembra bem de seu primeiro filho. Foi aquele que você vigiava quando estava dormindo, para ter certeza de que continuava a respirar. Foi o bebê que você carregou no colo e amamentou e/ou para o qual esterilizou mamadeiras por mais tempo. Esse filho é o único que terá tido o monopólio dos pais; todos os outros filhos foram obrigados a dividi-los.

O filho primogênito nasce numa família de adultos que se orgulha de cada conquista dele e teme todo machucado ou acidente potencial. O filho do meio com frequência é dominado pelo primogênito, que é mais velho, sabe mais e é mais competente. Quando nasce o filho caçula, os pais geralmente já estão cansados e têm menos tendência a querer controlar tudo. Quando você tem seu caçula, já sabe que seu bebê não vai quebrar; logo, pode ser mais flexível em termos de atenção e disciplina. O resultado é que seu bebê aprende desde cedo a seduzi e divertir vocês.

O realizador, o pacificador e o brincalhão

Enquanto o filho mais velho é programado para alcançar excelência e realizações, o filho do meio é criado para ser compreensivo e conciliador, e o caçula quer atenção. Assim, a ordem de nascimento dos filhos é uma variável poderosa no desabrochar da personalidade de cada um.

O primogênito: o realizador
O primogênito provavelmente terá mais em comum com outros primogênitos do que com seus próprios irmãos. Pelo fato de ter sido alvos de tanto controle e atenção de seus pais, marinheiros de primeira viagem, os primogênitos são responsáveis até demais, confiáveis, bem comportados, cuidadosos --versões menores de seus pais.
Se você é filho primogênito, é provável que seja um realizador que busca aprovação, domina e é aquele perfeccionista que suga todo o oxigênio que há na sala. Você pode ser encontrado em profissões que requerem liderança, como direito, medicina, ou ser CEO de uma empresa. Como mini-pai ou mãe, também tenta dominar seus irmãos. O problema é que, quando nasce o bebê número dois, você tem um sentimento de perda. Ao perder seu lugar no trono familiar, você também perde o lugar especial decorrente da singularidade. Toda a atenção que era voltada exclusivamente a você agora terá que ser compartilhada entre você e seu irmão.

O filho do meio: o pacificador
Se você é filho do meio, é provável que seja compreensivo, cooperador e flexível, mas também competitivo. Você se preocupa com o que é justo. Na realidade, como filho do meio, é muito provável que escolha um círculo íntimo de amigos para representar sua grande família. É nesse espaço que encontrará a atenção que lhe faz falta em sua família de origem. Como filho do meio, você é quem recebe menos atenção de sua família, e por essa razão essa família que você escolheu é sua compensação. Como filho do meio, você está em muito boa companhia: presidentes americanos notáveis e celebridades como Abraham Lincoln, John F. Kennedy, Winston Churchill, Bill Gates, Donald Trump e Steve Forbes também o são. Embora em muitos casos você só se destaque mais tarde na vida, acabará em profissões poderosas que lhe permitam fazer bom uso de suas habilidades de negociador -- e também conseguir aquela atenção que lhe faz tanta falta.
Você e seu irmão mais velho nunca vão se destacar na mesma coisa. O traço de personalidade que o define como filho do meio será o oposto daquele de seu irmão mais velho e do menor. Mas as ótimas habilidades sociais que você aprendeu por ser o filho do meio --negociar e orientar-se dentro de sua estrutura familiar-- podem prepará-lo para um papel de empreendedor num palco maior.

O filho caçula: aquele que anima a festa
Se você é o caçula da família, seus pais já se sentiam confiantes em seus papéis de cuidadores; por essa razão, eram menos rígidos e não necessariamente prestavam atenção a cada passo ou marco seus, como fizeram com seus irmãos mais velhos. Assim, você deve ter aprendido a seduzir as pessoas com seu charme e simpatia.
Como filho caçula, você tem mais liberdade que os irmãos mais velhos e, em certo sentido, é mais independente que eles. Como o caçula, você também tem muito em comum com seu irmão mais velho, já que vocês foram tratados como especiais, dotados de certos direitos inatos. Sua influência se estende a toda a família, que lhe dá apoo emocional e físico. Logo, você tem um sentimento de segurança e de ter seu lugar próprio.
Provavelmente não o surpreenderá observar que os filhos caçulas com frequência encontram profissões ligados ao entretenimento, como atores, comediantes, escritores, diretores e assim por diante. Eles também dão bons médicos e professores. Como seus pais foram mais descontraídos e lenientes, você tem a expectativa de ter liberdade para seguir seu próprio caminho em estilo criativo. E, como o caçula da família, carrega menos responsabilidade, e por essa razão não atrai experiências responsáveis.

O filho único
Se você é filho único, cresce cercado por adultos e, por essa razão, com frequência sabe verbalizar as coisas bem e tem bastante maturidade. Isso possibilita ganhos de inteligência que excedem outras diferenças de ordem de nascimento. Tendo passado tanto tempo sozinho, você é engenhoso, criativo e tem confiança em sua independência. Se você é filho único, na realidade tem muito em comum com os primogênitos e também com os caçulas.

Pais: conheçam seus filhos

Em última análise, é importante para os pais conhecer seus filhos. Ainda mais importante que a ordem em que eles nasceram é criar um ambiente positivo, sadio, seguro e estimulante. Compreendendo a personalidade e o temperamento de cada filho, você pode organizar o ambiente dele de modo a aproximá-lo de seu potencial mais pleno. Por exemplo, sabendo que o filho primogênito tem grande senso de responsabilidade, você pode aliviar a carga dele, e reconhecendo que o caçula está vivendo em um ambiente mais leniente, você pode ser mais exigente em termos de disciplina.


A criança precisa ter direito de buscar seu próprio destino, seja qual for seu papel na família, e, como mãe ou pai, sua tarefa mais importante é apoiá-la nessa sua jornada individual.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Os primeiros dias de volta às aulas





Ah, as férias escolares! Mas elas acabam e as famílias precisam “entrar nos eixos” novamente... A volta às aulas vem muitas vezes acompanhada de chororô. Para gerenciar esse período de transição na sua família, confira dicas reorganizar a rotina familiar e escolar.

Em casa, os pais devem...

1) Acordar as crianças mais cedo, para que possam se adequar novamente à rotina escolar. Quando necessário, ser um pouco mais rígido, sim. O importante é readaptá-los às atividades diárias, pois a criança precisa ter certeza de que suas férias acabaram.

2) Conversar bastante com a criança, procurando mostrar o quanto é bacana voltar às aulas. Falar, por exemplo, sobre as novidades que estão sendo produzidas na escola, o reencontro com os colegas e todos os pontos que a criança mais gosta.

3) Verificar se o material escolar está em ordem e ver se há algum tipo de tarefa para o retorno. Fazer isso junto com os filhos enquanto relembra as coisas legais que eles produziram ao longo do semestre anterior para que eles entrem no clima de volta às aulas.

4) De segunda à sexta, preferir comidas saudáveis. Já nos finais de semana, deixá-los mais à vontade em suas escolhas. “A alimentação deve acompanhar a rotina da criança”, diz Gabriele Berton Cunha Bueno, especialista em nutrição clínica infantil.

5) Permitir que as crianças tirem uma soneca depois do período escolar. Porque as atividades propostas em sala de aula são realmente cansativas, e é mais do que natural que o relógio biológico delas demore um pouquinho para se reajustar.

6) Valorizar o convívio familiar. Esteja por perto, dê atenção às crianças e mostre que você está ao lado deles.

7) Manter a rotina de mudanças estabelecida em julho. Processos não devem ser interrompidos. Se durante as férias, a criança estava deixando a chupeta ou as fraldas, ela deve continuar com essa transição naturalmente.

8) Informar à escola sobre possíveis mudanças que ocorreram nas férias na vida das crianças, como uma doença, separação, desemprego ou até a chegada de um irmãozinho. Isso poderá interferir no comportamento e no rendimento escolar.

9) Fazer um balanço do semestre anterior. Seu filho (e você) deu conta de fazer natação, judô, inglês e ainda as lições de casa? As notas foram mais baixas que o comum e ele se mostrou cansado? É hora de rever a rotina da família para que os próximos meses sejam proveitosos e que haja tempo livre para brincar.

10) Se a criança fizer birra, seja firme, mas carinhoso. O importante é explicar que é natural sentir preguiça, ao mesmo tempo mostrando o lado gostoso, de reencontrar os colegas e acompanhar as atividades propostas. A ausência da criança no primeiro dia de aula só deve ser justificada por conta de doença ou uma viagem que a família só conseguiu fazer naquela data.

Na escola, os professores devem...

1) Criar atividades agradáveis e prazerosas - algo que possa ter continuidade em casa, junto dos pais.

2) Preestabelecer atividades para o dia seguinte. Isso transmite a ideia de continuidade e, deste modo, as crianças ficam estimuladas a voltar para a sala de aula.

3) Pedir para os alunos trazerem um jogo ou uma foto daquilo que fizeram nas férias, assim, sentirão vontade de contar as novidades para os colegas.

4) Preferir alimentos que tenham mais aceitação entre eles. “Como, por exemplo, um pãozinho francês com queijo, que costuma agradar a todos os paladares”, diz a nutricionista Gabriele.

5) Voltar à dinâmica das aulas aos poucos, para dar a sensação de segurança à criança.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

12 dicas para passar pela adaptação sem traumas (nem para as mães, nem para os filhos)



Se o seu filho vai passar por adaptação escolar, seja pela primeira vez ou em uma nova instituição, quanto antes trabalhar isso, melhor – para ele e para você. Afinal, não dá para negar que é um momento delicado para toda a família. A criança, de repente, se vê no meio de pessoas estranhas e novas regras com as quais precisa conviver e os pais mal conseguem conter o pavor de imaginar seu “tesouro” sendo entregue aos cuidados dos educadores. A fase da preparação você já passou: pesquisou bastante, visitou diversas instituições e está seguro de sua escolha. No entanto, agora chegou a hora pra valer! Veja a seguir doze dicas para você e seu filho lidarem com a adaptação da melhor maneira possível.

Clara no seu primeiro dia de aula, em 28/03/2011, com a tia Jô


A PRIMEIRA VEZ

1) Um pedacinho de casa
Primeiro dia no berçário. Não dá para dizer que, porque seu filho não fala, a adaptação será mais fácil. Até completar 9 meses, o bebê guarda as informações na mente por meio de registros emocionais – e uma experiência que não seja tranquila pode fazer com que ele tema a escola por muito tempo. Para evitar problemas, você precisa estar disponível para passar essa fase ao lado dele.
Levar itens que tenham o cheiro do quarto dele, por exemplo, também vai confortá-lo: pode ser a naninha ou o brinquedo do berço. Só não se esqueça de manter atenção especial ao comportamento do seu filho. Como ele não fala, você precisa perceber se está se alimentando e dormindo bem, brincando normalmente ou se está com doenças respiratórias. Esses são indicadores de que algo não vai bem. Caso isso aconteça, visite a escola para ver se estão mantendo a rotina e converse com a coordenação.

2) Envolva seu filho
Para a criança que precisará encarar a rotina de aulas pela primeira vez, uma boa maneira de introduzir o assunto é dizer que ela está crescendo e que, por isso, precisa de um espaço para brincar com outras crianças e aprender coisas novas. Levá-la para comprar os materiais escolares ajuda a prepará-la de uma forma estimulante. Para não ficar caro, dê oportunidades de escolha, como “este ou aquele lápis?” ou “qual mochila entre essas três é a melhor?”.
É preciso, porém, sensibilidade para perceber se essa participação está se transformando em ansiedade. Evite tocar muito no assunto e perguntar se ele já está preparado muito antes da hora. Se possível, leve-o para conhecer o colégio quando estiver mais perto do primeiro dia de aula.

3) Se prometer, cumpra
A semana de adaptação das crianças que nunca foram à escola é muito parecida na maioria delas. Os pais levam seus filhos por pequenos períodos de tempo, que ficam maiores conforme eles vão se acostumando com a ideia de estarem longe da família. Durante esse processo, é fundamental que a criança se sinta segura e perceba que está no meio de pessoas dignas de sua confiança. Mentir ou sair de fininho pode dificultar as coisas. Se você disser que estará esperando no pátio, faça exatamente isso. Os pais que não podem se ausentar do trabalho devem explicar ao chefe que estão passando por um momento delicado e pode ser que precisem sair às pressas em uma emergência.

4) Mantenha o equilíbrio entre aconchego e firmeza
Prepare-se, porque as primeiras semanas de adaptação deixarão a criança mais sensível. A mudança traz insegurança, medo, frustração, irritação, muitas vezes traduzidos pelo choro. Embora seja difícil ver tudo isso acontecer, pense que aprender a lidar com essas emoções é uma etapa importante do desenvolvimento. Blindar seu filho disso só o deixará frágil. Quando o choro aparecer, o melhor é reforçar que a escola é importante, que você sabe que ele está sofrendo, mas acredita que ele vai conseguir superar. É difícil para a criança e para você, mas é necessário firmeza. Sem esquecer que ela precisará muito do seu colo e da sua paciência. Afinal, momentos de separação nunca são fáceis. Foi isso que ajudou a assistente comercial Hanã Carreiro, 25 anos, quando a filha Izabelly, 3, foi para a escola pela primeira vez. Ela tinha 1 ano e meio e chorava muito, mesmo na semana de adaptação, com a mãe junto. Hanã chegou a levá-la dia sim, dia não para ver se a filha se acostumava aos poucos. Mas o que funcionou mesmo foi ter muita paciência e conversar com ela todos os dias, valorizando a escola. “No dia anterior sempre conversava e explicava que o papai ia buscá-la no fim da aula. Também procurei mostrar que ir para a escola era legal, com brincadeiras e novos amigos”, lembra.

5) Rotina adaptada
Ao começar a vida escolar, o dia a dia da criança muda completamente. Por isso, alguns ajustes podem ser necessários para que ela se adapte de forma mais tranquila. Quando a auxiliar de cabeleireiro Cintia Santos de Souza, 27 anos, colocou o filho Luiz Paulo, 3, na escola, passou por dias difíceis. Na época com 2 anos, o menino chorava a ponto de se jogar no chão toda vez que chegava lá, não aceitava ficar na sala e não comia.
Então, a professora ligou para Cintia e propôs uma mudança na rotina de Luiz, pois ele dormia e acordava tarde, ficando sem tempo para ir com calma para a escola. A mãe começou a fazer atividades com ele de manhã, depois, era hora de uma soneca, banho, almoço e, então, a ida para o colégio. “No primeiro dia que fiz isso ele já não chorou tanto e, quando cheguei pra buscá-lo, a professora disse que ele era outra criança. Depois de uma semana, não chorava nem chamava por mim”, lembra.


MUDANÇA DE ESCOLA

6) Mundo novo
Se o seu filho entrou com poucos meses no berçário, a mudança de colégio é como se fosse a primeira vez. Nesse caso, siga também todas as dicas dadas anteriormente. Para aquelas crianças que já estão adaptadas ao ambiente escolar, mas vão enfrentar uma “mudança de ares”, o processo costuma ser mais simples, mas isso não quer dizer que elas não precisem de atenção. A separação dos amigos, dos professores e até da sala de aula antiga costuma ser dolorosa e a integração a um novo grupo, muitas vezes já formado, é um desafio. Nesse caso, mais do que disponibilidade física, seu filho precisará de ajuda emocional.
Deixe claro para ele que o contato com os amigos antigos pode ser mantido. E ressalte, de forma positiva, que ele está tendo a oportunidade de ampliar sua rede de amizades e aprender coisas novas. Não se esqueça de perguntar como foi o dia na escola nova e o que você pode fazer para ajudá-lo a se integrar melhor.

7) Este é meu filho!
A adaptação com os professores também é fundamental, principalmente para que eles conheçam detalhes de saúde e comportamento do seu filho que só você pode contar, como o que ele tem mais resistência para comer, quais são seus medos e dificuldades.
Também é interessante pensar em formas de seu filho se apresentar aos colegas para facilitar o entrosamento, como aconteceu com Júlia Gravinan, 3 anos, que é muito tímida. Quando a família precisou mudar de Belém (PA) para São Paulo, a maior preocupação era a dificuldade de relacionamento que ela teria. Então, escola e mãe se uniram. Na primeira semana de aula, Júlia levou uma muda de açaí para que as outras crianças conhecessem algo típico da região de onde veio. Além disso, para que perdesse a timidez nas rodas de conversa, a família foi orientada a guardar lembranças do fim de semana para que Júlia pudesse compartilhar com os amigos. “Se íamos ao cinema, ela levava o ingresso para contar sobre o filme. Se viajávamos para a praia, levava uma conchinha. Em pouco tempo, estava mais falante”, relembra a mãe, a publicitária Roberta Gravinan, 35 anos.

8) Como vai ser?
Você pode contar para a criança o que ela vai encontrar lá na frente. Explique o que aprenderá durante o ano e, se possível, antecipe a turma com que seu filho vai conviver, apresentando alguns alunos antes mesmo de as aulas começarem – converse com a escola e proponha que ela ajude. Foi o que aconteceu com Lucas, 3 anos. Três meses antes de mudar de Chapecó (SC) para Botucatu (SP), a professora teve uma ótima ideia, como conta o pai Marcos Panhoza, 36. “O colégio de Chapecó fez uma aula só sobre Botucatu, mostrando para os alunos tudo o que a cidade tinha de interessante. Também pediram que a escola nova mandasse uma foto daquela que seria a nova sala do Lucas.” Assim, o menino já chegou mais enturmado e a adaptação ocorreu de forma tranquila.

A SUA PREPARAÇÃO

9) Não deixe a tristeza pegar você de surpresa
Talvez você sinta a dor da separação mais do que seu filho e isso vai causar tristeza. Por isso, esteja preparado para lidar com esse sentimento ou, pelo menos, aceitá-lo, como fez a advogada Priscila Westphal, 31 anos. Quando levou José Augusto, 2, à escola pela primeira vez, não se conteve na hora em que precisou deixá-lo chorando com a professora. “Desmoronei. Fui para a recepção e veio tanta culpa e dor que meu choro se tornou compulsivo.”
Foi só quando a professora disse que o menino se acalmou no instante em que a mãe virou as costas que ela parou para refletir: “Como assim ele está bem sem mim? Passei dois anos achando que era imprescindível na vida dele. Depois lembrei que estou criando um filho para o mundo e ‘para o mundo’ é, muitas vezes, longe de mim. É a escola da vida, né? Deixar ir e aproveitar o voltar!”, opina Priscila.
Por mais que você se prepare, talvez não esteja pronto quando chegar o momento. Mas vale tentar: antes do começo das aulas, deixe seu filho brincar com outras pessoas ou, se possível, leve-o para a casa da avó ou da tia e vá fazer algo de que goste. Assim, vocês dois vão treinando ficar longe um do outro.

10) Segurança na chegada
Despedir-se do filho na entrada da escola é um dos momentos mais difíceis na vida de uma mãe ou um pai. Se o filho vai para o berçário com poucos meses, a aflição é por deixar alguém tão pequeno e indefeso nos braços de um “estranho”. Se a criança já é um pouco maior, pode ser difícil por estar mais acostumada a ficar em casa ou porque parte o coração dos pais ouvir: “Não quero ir pra escola, quero ficar com você”. Sabemos que é uma missão difícil, mas, nessa hora, estufe o peito, não deixe que ela perceba a sua angústia e estimule que se sinta confiante e independente.
Caso o seu filho ainda não ande, passe-o para o colo da professora com um beijo, mas sem muita enrolação, pois o bebê também sente a sua insegurança. Se ele já for maior, incentive-o a entrar na escola caminhando e levando a própria mochila. Agora, se é você que não consegue se controlar na hora do adeus, considere pedir para que outra pessoa leve seu filho para a escola durante alguns dias. Com o tempo, você estará mais tranquilo e poderá assumir a função outra vez.

11) Procure distrações
Será que ele está bem? Está comendo direito? A professora vai ajudá-lo quando ele precisar? Passar o dia pensando nessas questões só vai deixá-lo com rugas de preocupação. Por isso, procure manter a cabeça ocupada no período em que ficará sozinho. Que tal aproveitar para marcar um almoço com aquele amigo que você não vê faz tempo? Se estiver difícil de lidar com a angústia, procure conversar com outros pais que já passaram por isso. Eles podem transmitir conforto.

12) Faça parte da turma
Não é somente o seu filho que precisará passar por adaptação. Você também terá uma fase de integração com os novos pais e professores – e é importante estabelecer esse vínculo logo no início. Participe das atividades propostas pelo colégio, procure ir aos eventos sociais, como aniversários dos colegas, organize com outros pais piqueniques ou passeios, como uma ida ao teatro. Lidar com as diferenças e ressaltar a importância do convívio social são boas maneiras de dar o exemplo. E estabelecer esse contato é uma forma de incentivá-lo ainda mais a se abrir para novas amizades.