quarta-feira, 20 de abril de 2011

Reaprendendo a ser Mãe


Hoje João completa 3 meses. Há 90 dias, eu renasci como mãe.

Com Clara, há quase 3 anos atrás, foi tudo muito diferente. Aprendi a ser mãe na dor, no sofrimento, na angústia. Ela chorava muito, muito mesmo, não consegui amamentá-la no peito e ela teve muita dificuldade em adaptar-se aos inúmeros tipos de leite. Com tudo isso mais o refluxo, as cólicas e os incômodos, a coitadinha sofreu demais e eu sofri junto com ela. Ainda não consigo me esquecer dos seus olhos arregalados, enquanto chorava desesperadamente, como se estivesse me pedindo socorro. Poucos sabem, mas tive depressão pós-parto. Agora, depois de algumas boas sessões de terapia, consigo tocar no assunto com mais calma e menos culpa. Quando começamos a melhorar, ela das cólicas e dores e eu da depressão pós-parto, precisei voltar a trabalhar. Ela tinha apenas 5 meses. Foi muito duro ter que deixá-la em casa. O sofrimento da separação diária era doloroso demais. Eu só conseguia pensar: ‘Justo agora que estamos nos aproveitando e curtindo’. Mas era necessário, fazer o quê...

Confesso que, quando engravidei de novo, tive medo de passar por isso tudo novamente. Mais uma vez a terapia foi meu suporte. Fui entendendo que poderia ser diferente e, se não fosse, eu ‘sobreviveria’ e seria feliz.

Daí veio João e eu reaprendi a ser mãe. Tudo foi diferente, desde o parto. Eu, que sou sempre tão segura, me senti tão frágil e com tanto medo deitada naquela mesa de cirurgia, que não conseguia controlar as lágrimas, não de emoção, mas de nervosismo e insegurança. Mas foi tudo perfeito! E ele chegou: um bebê gordinho, cheio de vida, lindo! João é o bebê dos sonhos de toda mãe. Ainda no hospital consegui amamentar, para minha surpresa e alegria. Ele dormia!!! Nunca imaginei que fosse dormir algumas horinhas seguidas nos primeiros meses. Cada dia uma boa surpresa, uma novidade. E tem sido assim há 3 meses.

Sempre repetimos uma frase aqui em casa: ‘João chegou há tão pouco tempo e parece que sempre esteve aqui’. É essa impressão que temos – ele faz parte da nossa vida, da nossa família, muito antes de existir. É o príncipe do nosso lar! Tem uma irmãzinha extremamente carinhosa que não cansa de enchê-lo de beijinhos e carinhos. Nos tornamos mais família com sua chegada. Reaprendi a ser mãe de Clara aprendo a ser mãe de João.

Obrigada, João, meu filho, por consolar meu coração com seu doce olhar e seu sorriso sempre tão presente em seu lindo rostinho.
Te amo!
Feliz mesversário!

domingo, 17 de abril de 2011

Moro Em Um Castelo


               Eu moro em um castelo.
               Todo castelo tem torres. O meu também. E são duas.
Uma tem uma bela vista, me debruço em sua janela para contemplar o reino. De lá consigo ver com clareza cada canto dos arredores, mesmo os mais escondidos. Meus cotovelos denunciam o tempo perdido em seu peitoril. Só há um problema: a escada que leva ao seu topo é tortuosa e cansativa demais para ser subida todos os dias. Quando ouso subi-la, aproveito ao máximo tudo que ela pode me oferecer. E ela me dá muito mais do que meus olhos e coração almejam. Fico ali, admiro, contemplo, deslumbro-me, sem palavras... Ah! Como quisera ter mais ânimo e coragem para enfrentar sua subida mais vezes.
A outra torre tem fácil subida, mas é de difícil entrada. Sua porta tem sete cadeados e cada cadeado um segredo. Por vezes deixo um e outro abertos para facilitar a próxima entrada. Sempre me arrependo. Há quem entre, vasculhe, bagunce e até roube algo que guardo com tanto cuidado. É nessa torre que ficam meus pertences valiosos. Não há ouro nem prata, mas o que guardo ali vale a minha própria vida. Esses que entram e mexem sem permissão, não sabem o valor de cada guardado. (Certa vez achei jogado ao lixo algo que me era muito querido e fiquei triste, não esqueço tamanha indiferença e maldade!) Também há os que são convidados a entrar e é maravilhoso perceber que muito do que guardo não é valioso somente para mim. Essa torre precisa de uma boa faxina de tempos em tempos – e foi bom lembrar disso, já está na hora.
Todo castelo tem ponte. O meu também.
É uma ponte levadiça, pesada, não muito grande. Tem o comprimento exato para ligar o castelo ao reino e a largura necessária para deixar a carruagem passar. Sua madeira é forte e resistente, mas temo as correntes. Essas são frágeis e quem as manuseia tem que ter firmeza e doçura na medida certa. Se elas se arrebentarem, ou não se entra mais no castelo ou qualquer um tem acesso. Não, isso não pode acontecer.
Todo castelo tem um fosso. O meu também.
Fossos não são nada atraentes, mas são necessários. Ele fica sob a ponte. Tentei enfeitá-lo com flores delicadas à sua volta. Foi em vão. Os monstros que vivem ali comem tantas quantas são plantadas. Ainda não desisti de melhorá-lo. Um dia ou os monstros se saciam ou percebem que o trabalho deles é que é vão.
Todo castelo tem um príncipe e uma princesa. O meu também.
A princesa é primogênita. Forte e decidida, meiga e delicada. Sua personalidade me é imposta de uma maneira sem igual. Mais parece uma rainha! Não usa muitos adornos, na verdade nem gosta deles. E nem precisa – é linda, muito linda, como nenhuma outra em todo o reino. Com sua doce autoridade manda e desmanda no castelo todo e quase sempre é obedecida. Tem olhos profundos e penetrantes – essa sempre foi sua arma. Seu cabelo, cheio de lindos cachos que teimam em não crescer, é macio como as nuvens. Sua pele, morena e macia, cobre um corpo esguio e ativo. Como toda princesa, é encantadora por natureza.
O príncipe chegou há pouco. Ainda não o conheço muito bem, mas já me apaixonei desde o primeiro instante. E sei que ele me ama também. Calmo e sereno ele vai conquistando um espaço que é todo seu no castelo. Usa seu sorriso como uma hipnose aos que o cercam. Tem feições másculas com certo toque de candura. Assim como a princesa, é o mais belo de todo o reino e sua beleza ilumina o rosto de quem o contempla. Ele vive há tão pouco tempo no castelo, mas parece que sempre esteve lá.
Todo castelo tem um guardião. O meu também.
Sua segurança e equilíbrio são imprescindíveis ao castelo. Ele guarda as torres e pode entrar livremente em cada uma. Ele vigia a ponte e cuida com todo esmero das correntes. Ele amansa os monstros do fosso e muitas vezes os repreende para que deixem as flores em paz. Ele cuida da princesa e, como ela gosta, trata-lhe como uma rainha. Ele embala o príncipe que sempre lhe paga com sorrisos. Ele não idealizou, mas ajudou na construção desse castelo e o guarda com um cuidado irretocável. O castelo não seria o mesmo sem ele.
Todo castelo tem um rei. O meu também.
O rei planejou, amou e criou o castelo à sua maneira. Digo mais, ele o criou à sua imagem. Ele ama e dá a vida pelo seu reino. Seu castelo está cheio de fendas e trincados, mas ele não se importa em cuidar e consertar quantas vezes for necessário. O rei só tem um desejo: o de ver seu castelo perfeito, em harmonia, em paz, mesmo que isso demore até a eternidade.
Pensando bem, eu não moro em um castelo. Eu sou esse castelo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Off

Meus queridos, me perdoem a ausência mas estou sem computador em casa...
Assim que resolver o problema, prometo mais posts novinhos ;)
Beijinhos em todos e em cada um!

sábado, 2 de abril de 2011

"A vinda de João"

Esse texto foi escrito quando meu caçulinha nasceu, por meu marido, e postado em seu blog. Confesso que sou fã dO Camponês e acredito que, se você der uma passadinha lá, voltará sempre.
Ei-lo:
Quase inevitável falar de João. Ter um filho é um acontecimento fundante. O psicólogo Abraham Maslow falava de peak experiences, experiências que têm o poder de suspender o tempo e nos fazer sentir o gosto do eterno. A beleza de uma paisagem, uma música marcante, uma obra de arte e, é claro, o nascimento de um filho. Assim eu estive no dia de ontem. Encantado, espantado, desde cedo. Tive a oportunidade de estar na sala de parto e assisti-lo todo. Bati fotos. Vi meu filho vir ao mundo. É uma dádiva. Não esperem de mim lucidez. Esperem o sentimentalismo, o êxtase maravilhado. Ser pai não é coisa humana somente, é participação na paternidade divina. Os meus primeiros olhares para João tinham um quê daquele olhar admirado de Deus sobre a Criação: “Viu que tudo era bom!” Que presente é esse que Deus dá aos homens de participar assim de seu poder criador?

Entendo, entendo perfeitamemte porque a Igreja protege a sexualidade e a vida com tanto rigor, tanta exigência. No sagrado não se deve tocar sem respeito! Com Deus não se brinca! De Deus não se zomba! A sexualidade e a vida são território sagrado do qual devemos tirar as sandálias dos pés para nos aproximarmos. Eu contemplei tudo isso no nascimento de João. A delicadeza de um Deus que permite aos seus filhos  – que não merecem nada disso – gozarem de tão grande privilégio é espantosa!

Sei que esse estado de encantamento se vai na dureza dos dias. O peso da responsabilidade, a crueldade da realidade, o trabalho que a educação de um filho é, tudo isso vai nos trazendo de volta para a terra. Então chega a hora da tarefa sagrada: fazer o ordinário de forma extraordinária. Não exigir que a vida seja mágica e nem ser um cético que não quer ver os pequenos milagres cotidianos. Virtus in medio.

Mas hoje eu só queria dizer que estou vivendo a fundação de um novo tempo. Lo intelectual y lo emocional son dos carriles. En Borges convergían y por eso fue genial, disse Maria Kodama em recente entrevista. Não sou genial. Por isso, deixem-me ser óbvio, deixem-me cair em clichês. Deixem-me ser deslavadamente brega. Deixem-me babar.  Eu fico olhando para o céu e lembrando de uma frase do então cardeal Ratzinger: “Quem está nos braços de Deus, sempre cai nos braços de Deus.” Sinto-me seguro e feliz. Sei que a tarefa de ser pai é humanamente irrealizável. Mas estou nos braços do Pai. Ele me faz seguro e feliz. Pai, ensina-me a ser também assim para João, para Clara. E tranquilizo-me.
Não, nada disso é carência noética, meus amigos. Tudo isso é só amor.
Fonte: O Camponês