quarta-feira, 1 de julho de 2015

A cama (um post a quatro mãos)



“A cama é um móvel metafísico, em que se cumprem os mistérios do nascimento e da morte; um caixão, onde nos regeneramos, de noite, misteriosamente, inconscientes e de joelhos encolhidos, como outrora no escuro do ventre materno, presos ao cordão umbilical da Natureza; a cama é um barco mágico, de dia modestamente coberto, mas em que, de noite, balouçamos para o mar do inconsciente e dos sonhos.”
(Thomas Mann, “Ensaios”)

Senti uma cutucada de leve no braço, às 4 e pouca da manhã, com uma vozinha baixa: “mamãe, a parede do lado da minha cama tá muito fria”. Sem mais palavras ou correções, puxei o menino pro nosso meio que logo adormeceu.

Há lugar mais quentinho que a cama dos pais? Fiquei pensando nessa questão desde que despertei e me levantei.

A cama do casal é o altar da família. Lugar de respeito e acolhida.É nela que os esposos se entregam no mais profundo ato de amor e se tornam íntimos em corpo e alma. Onde se tornam um só! Lugar sagrado do ato conjugal.

É nela que reclinamos a cabeça e fazemos nosso exame de consciência, choramos as lágrimas de um dia cansativo ou de uma imensa saudade, pensamos e sonhamos com os mais ‘absurdos’ projetos.

É também nela que os filhos vêm se aquecer, se aninhar, buscar carinho e aconchego. É o lugar seguro. Já foi dito inúmeras vezes que dá mais segurança o fato de saber que os pais se amam do que as manifestações exageradas (mimos) de carinho aos próprios filhos.  Por isso a cama, o lugar onde os pais mais se amam, é o lugar que mais lhes dá segurança. Filhos com febre, medo, dor encontram alívio ali. Num certo sentido, ali a criança está voltando ao lugar onde foi concebida. A cama é o centro da casa, porque é o lugar da vida. Daí a importância de se estar sempre aberto a vida. Como poderia a cama ser um “centro irradiador de vida” se as relações sexuais forem sempre fechadas à vida. Se há sempre uma ‘pedra’ – uma pílula, uma camisinha, um diu – no meio do caminho que impede a vida de se irradiar?

Grande parte dos pediatras, pedagogos, psicólogos querem manter as crianças longe da cama dos pais. Precisamos quebrar esses tabus e permitir nossos filhos retornarem ao ninho em que foram concebidos para que se sintam seguros, protegidos. Mais, precisamos fazer como nossos filhos: voltar para a cama. Voltar a fazer da cama a fonte de toda a vida. Voltar para a cama é como um retorno ao Éden. É voltar para o lugar onde Deus insuflou o sopro da vida nas narinas do homem. Voltar para o lugar onde o homem e a mulher se unem da maneira mais íntima, e onde Deus cria uma nova alma humana para viver eternamente. Por isso a cama é um móvel não só metafísico, mas sagrado. É onde Deus cria uma nova alma. É um altar, onde se consuma e realiza o sacramento do matrimônio, onde vidas são geradas e acolhidas.