Se o seu filho vai passar por adaptação escolar, seja pela primeira vez
ou em uma nova instituição, quanto antes trabalhar isso, melhor – para ele e
para você. Afinal, não dá para negar que é um momento delicado para toda a
família. A criança, de repente, se vê no meio de pessoas estranhas e novas
regras com as quais precisa conviver e os pais mal conseguem conter o pavor de
imaginar seu “tesouro” sendo entregue aos cuidados dos educadores. A fase da
preparação você já passou: pesquisou bastante, visitou diversas instituições e
está seguro de sua escolha. No entanto, agora chegou a hora pra valer! Veja a
seguir doze dicas para você e seu filho lidarem com a adaptação da melhor
maneira possível.
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Clara no seu primeiro dia de aula, em 28/03/2011, com a tia Jô |
A PRIMEIRA VEZ
1) Um pedacinho de casa
Primeiro dia no berçário. Não dá para dizer que,
porque seu filho não fala, a adaptação será mais fácil. Até completar 9 meses,
o bebê guarda as informações na mente por meio de registros emocionais – e uma
experiência que não seja tranquila pode fazer com que ele tema a escola por
muito tempo. Para evitar problemas, você precisa estar disponível para passar
essa fase ao lado dele.
Levar itens que tenham o cheiro do quarto dele, por
exemplo, também vai confortá-lo: pode ser a naninha ou o brinquedo do berço. Só
não se esqueça de manter atenção especial ao comportamento do seu filho. Como
ele não fala, você precisa perceber se está se alimentando e dormindo bem,
brincando normalmente ou se está com doenças respiratórias. Esses são
indicadores de que algo não vai bem. Caso isso aconteça, visite a escola para
ver se estão mantendo a rotina e converse com a coordenação.
2) Envolva seu filho
Para a criança que precisará encarar a rotina de
aulas pela primeira vez, uma boa maneira de introduzir o assunto é dizer que
ela está crescendo e que, por isso, precisa de um espaço para brincar com
outras crianças e aprender coisas novas. Levá-la para comprar os materiais
escolares ajuda a prepará-la de uma forma estimulante. Para não ficar caro, dê
oportunidades de escolha, como “este ou aquele lápis?” ou “qual mochila entre
essas três é a melhor?”.
É preciso, porém, sensibilidade para perceber se
essa participação está se transformando em ansiedade. Evite tocar muito no
assunto e perguntar se ele já está preparado muito antes da hora. Se possível,
leve-o para conhecer o colégio quando estiver mais perto do primeiro dia de
aula.
3) Se prometer, cumpra
A semana de adaptação das crianças que nunca foram à
escola é muito parecida na maioria delas. Os pais levam seus filhos por
pequenos períodos de tempo, que ficam maiores conforme eles vão se acostumando
com a ideia de estarem longe da família. Durante esse processo, é fundamental
que a criança se sinta segura e perceba que está no meio de pessoas dignas de
sua confiança. Mentir ou sair de fininho pode dificultar as coisas. Se você
disser que estará esperando no pátio, faça exatamente isso. Os pais que não
podem se ausentar do trabalho devem explicar ao chefe que estão passando por um
momento delicado e pode ser que precisem sair às pressas em uma emergência.
4) Mantenha o equilíbrio entre aconchego e firmeza
Prepare-se, porque as primeiras semanas de adaptação
deixarão a criança mais sensível. A mudança traz insegurança, medo, frustração,
irritação, muitas vezes traduzidos pelo choro. Embora seja difícil ver tudo
isso acontecer, pense que aprender a lidar com essas emoções é uma etapa
importante do desenvolvimento. Blindar seu filho disso só o deixará frágil.
Quando o choro aparecer, o melhor é reforçar que a escola é importante, que
você sabe que ele está sofrendo, mas acredita que ele vai conseguir superar. É
difícil para a criança e para você, mas é necessário firmeza. Sem esquecer que
ela precisará muito do seu colo e da sua paciência. Afinal, momentos de
separação nunca são fáceis. Foi isso que ajudou a assistente comercial Hanã
Carreiro, 25 anos, quando a filha Izabelly, 3, foi para a escola pela primeira
vez. Ela tinha 1 ano e meio e chorava muito, mesmo na semana de adaptação, com
a mãe junto. Hanã chegou a levá-la dia sim, dia não para ver se a filha se
acostumava aos poucos. Mas o que funcionou mesmo foi ter muita paciência e
conversar com ela todos os dias, valorizando a escola. “No dia anterior sempre
conversava e explicava que o papai ia buscá-la no fim da aula. Também procurei
mostrar que ir para a escola era legal, com brincadeiras e novos amigos”,
lembra.
5) Rotina adaptada
Ao começar a vida escolar, o dia a dia da criança
muda completamente. Por isso, alguns ajustes podem ser necessários para que ela
se adapte de forma mais tranquila. Quando a auxiliar de cabeleireiro Cintia
Santos de Souza, 27 anos, colocou o filho Luiz Paulo, 3, na escola, passou por
dias difíceis. Na época com 2 anos, o menino chorava a ponto de se jogar no
chão toda vez que chegava lá, não aceitava ficar na sala e não comia.
Então, a professora ligou para Cintia e propôs uma
mudança na rotina de Luiz, pois ele dormia e acordava tarde, ficando sem tempo
para ir com calma para a escola. A mãe começou a fazer atividades com ele de
manhã, depois, era hora de uma soneca, banho, almoço e, então, a ida para o
colégio. “No primeiro dia que fiz isso ele já não chorou tanto e, quando
cheguei pra buscá-lo, a professora disse que ele era outra criança. Depois de
uma semana, não chorava nem chamava por mim”, lembra.
MUDANÇA DE ESCOLA
6) Mundo novo
Se o seu filho entrou com poucos meses no berçário,
a mudança de colégio é como se fosse a primeira vez. Nesse caso, siga também
todas as dicas dadas anteriormente. Para aquelas crianças que já estão
adaptadas ao ambiente escolar, mas vão enfrentar uma “mudança de ares”, o
processo costuma ser mais simples, mas isso não quer dizer que elas não
precisem de atenção. A separação dos amigos, dos professores e até da sala de
aula antiga costuma ser dolorosa e a integração a um novo grupo, muitas vezes
já formado, é um desafio. Nesse caso, mais do que disponibilidade física, seu
filho precisará de ajuda emocional.
Deixe claro para ele que o contato com os amigos
antigos pode ser mantido. E ressalte, de forma positiva, que ele está tendo a
oportunidade de ampliar sua rede de amizades e aprender coisas novas. Não se
esqueça de perguntar como foi o dia na escola nova e o que você pode fazer para
ajudá-lo a se integrar melhor.
7) Este é meu filho!
A adaptação com os professores também é fundamental,
principalmente para que eles conheçam detalhes de saúde e comportamento do seu
filho que só você pode contar, como o que ele tem mais resistência para comer,
quais são seus medos e dificuldades.
Também é interessante pensar em formas de seu filho
se apresentar aos colegas para facilitar o entrosamento, como aconteceu com
Júlia Gravinan, 3 anos, que é muito tímida. Quando a família precisou mudar de
Belém (PA) para São Paulo, a maior preocupação era a dificuldade de
relacionamento que ela teria. Então, escola e mãe se uniram. Na primeira semana
de aula, Júlia levou uma muda de açaí para que as outras crianças conhecessem
algo típico da região de onde veio. Além disso, para que perdesse a timidez nas
rodas de conversa, a família foi orientada a guardar lembranças do fim de semana
para que Júlia pudesse compartilhar com os amigos. “Se íamos ao cinema, ela
levava o ingresso para contar sobre o filme. Se viajávamos para a praia, levava
uma conchinha. Em pouco tempo, estava mais falante”, relembra a mãe, a
publicitária Roberta Gravinan, 35 anos.
8) Como vai ser?
Você pode contar para a criança o que ela vai
encontrar lá na frente. Explique o que aprenderá durante o ano e, se possível,
antecipe a turma com que seu filho vai conviver, apresentando alguns alunos
antes mesmo de as aulas começarem – converse com a escola e proponha que ela
ajude. Foi o que aconteceu com Lucas, 3 anos. Três meses antes de mudar de
Chapecó (SC) para Botucatu (SP), a professora teve uma ótima ideia, como conta
o pai Marcos Panhoza, 36. “O colégio de Chapecó fez uma aula só sobre Botucatu,
mostrando para os alunos tudo o que a cidade tinha de interessante. Também
pediram que a escola nova mandasse uma foto daquela que seria a nova sala do
Lucas.” Assim, o menino já chegou mais enturmado e a adaptação ocorreu de forma
tranquila.
A SUA PREPARAÇÃO
9) Não deixe a tristeza pegar você de surpresa
Talvez você sinta a dor da separação mais do que seu
filho e isso vai causar tristeza. Por isso, esteja preparado para lidar com
esse sentimento ou, pelo menos, aceitá-lo, como fez a advogada Priscila
Westphal, 31 anos. Quando levou José Augusto, 2, à escola pela primeira vez,
não se conteve na hora em que precisou deixá-lo chorando com a professora.
“Desmoronei. Fui para a recepção e veio tanta culpa e dor que meu choro se
tornou compulsivo.”
Foi só quando a professora disse que o menino se
acalmou no instante em que a mãe virou as costas que ela parou para refletir:
“Como assim ele está bem sem mim? Passei dois anos achando que era
imprescindível na vida dele. Depois lembrei que estou criando um filho para o
mundo e ‘para o mundo’ é, muitas vezes, longe de mim. É a escola da vida, né?
Deixar ir e aproveitar o voltar!”, opina Priscila.
Por mais que você se prepare, talvez não esteja
pronto quando chegar o momento. Mas vale tentar: antes do começo das aulas,
deixe seu filho brincar com outras pessoas ou, se possível, leve-o para a casa
da avó ou da tia e vá fazer algo de que goste. Assim, vocês dois vão treinando
ficar longe um do outro.
10) Segurança na chegada
Despedir-se do filho na entrada da escola é um dos
momentos mais difíceis na vida de uma mãe ou um pai. Se o filho vai para o
berçário com poucos meses, a aflição é por deixar alguém tão pequeno e indefeso
nos braços de um “estranho”. Se a criança já é um pouco maior, pode ser difícil
por estar mais acostumada a ficar em casa ou porque parte o coração dos pais
ouvir: “Não quero ir pra escola, quero ficar com você”. Sabemos que é uma
missão difícil, mas, nessa hora, estufe o peito, não deixe que ela perceba a
sua angústia e estimule que se sinta confiante e independente.
Caso o seu filho ainda não ande, passe-o para o colo
da professora com um beijo, mas sem muita enrolação, pois o bebê também sente a
sua insegurança. Se ele já for maior, incentive-o a entrar na escola caminhando
e levando a própria mochila. Agora, se é você que não consegue se controlar na
hora do adeus, considere pedir para que outra pessoa leve seu filho para a escola
durante alguns dias. Com o tempo, você estará mais tranquilo e poderá assumir a
função outra vez.
11) Procure distrações
Será que ele está bem? Está comendo direito? A
professora vai ajudá-lo quando ele precisar? Passar o dia pensando nessas
questões só vai deixá-lo com rugas de preocupação. Por isso, procure manter a
cabeça ocupada no período em que ficará sozinho. Que tal aproveitar para marcar
um almoço com aquele amigo que você não vê faz tempo? Se estiver difícil de
lidar com a angústia, procure conversar com outros pais que já passaram por
isso. Eles podem transmitir conforto.
12) Faça parte da turma
Não é somente o seu filho que precisará passar por
adaptação. Você também terá uma fase de integração com os novos pais e
professores – e é importante estabelecer esse vínculo logo no início. Participe
das atividades propostas pelo colégio, procure ir aos eventos sociais, como
aniversários dos colegas, organize com outros pais piqueniques ou passeios,
como uma ida ao teatro. Lidar com as diferenças e ressaltar a importância do
convívio social são boas maneiras de dar o exemplo. E estabelecer esse contato
é uma forma de incentivá-lo ainda mais a se abrir para novas amizades.