domingo, 17 de abril de 2011

Moro Em Um Castelo


               Eu moro em um castelo.
               Todo castelo tem torres. O meu também. E são duas.
Uma tem uma bela vista, me debruço em sua janela para contemplar o reino. De lá consigo ver com clareza cada canto dos arredores, mesmo os mais escondidos. Meus cotovelos denunciam o tempo perdido em seu peitoril. Só há um problema: a escada que leva ao seu topo é tortuosa e cansativa demais para ser subida todos os dias. Quando ouso subi-la, aproveito ao máximo tudo que ela pode me oferecer. E ela me dá muito mais do que meus olhos e coração almejam. Fico ali, admiro, contemplo, deslumbro-me, sem palavras... Ah! Como quisera ter mais ânimo e coragem para enfrentar sua subida mais vezes.
A outra torre tem fácil subida, mas é de difícil entrada. Sua porta tem sete cadeados e cada cadeado um segredo. Por vezes deixo um e outro abertos para facilitar a próxima entrada. Sempre me arrependo. Há quem entre, vasculhe, bagunce e até roube algo que guardo com tanto cuidado. É nessa torre que ficam meus pertences valiosos. Não há ouro nem prata, mas o que guardo ali vale a minha própria vida. Esses que entram e mexem sem permissão, não sabem o valor de cada guardado. (Certa vez achei jogado ao lixo algo que me era muito querido e fiquei triste, não esqueço tamanha indiferença e maldade!) Também há os que são convidados a entrar e é maravilhoso perceber que muito do que guardo não é valioso somente para mim. Essa torre precisa de uma boa faxina de tempos em tempos – e foi bom lembrar disso, já está na hora.
Todo castelo tem ponte. O meu também.
É uma ponte levadiça, pesada, não muito grande. Tem o comprimento exato para ligar o castelo ao reino e a largura necessária para deixar a carruagem passar. Sua madeira é forte e resistente, mas temo as correntes. Essas são frágeis e quem as manuseia tem que ter firmeza e doçura na medida certa. Se elas se arrebentarem, ou não se entra mais no castelo ou qualquer um tem acesso. Não, isso não pode acontecer.
Todo castelo tem um fosso. O meu também.
Fossos não são nada atraentes, mas são necessários. Ele fica sob a ponte. Tentei enfeitá-lo com flores delicadas à sua volta. Foi em vão. Os monstros que vivem ali comem tantas quantas são plantadas. Ainda não desisti de melhorá-lo. Um dia ou os monstros se saciam ou percebem que o trabalho deles é que é vão.
Todo castelo tem um príncipe e uma princesa. O meu também.
A princesa é primogênita. Forte e decidida, meiga e delicada. Sua personalidade me é imposta de uma maneira sem igual. Mais parece uma rainha! Não usa muitos adornos, na verdade nem gosta deles. E nem precisa – é linda, muito linda, como nenhuma outra em todo o reino. Com sua doce autoridade manda e desmanda no castelo todo e quase sempre é obedecida. Tem olhos profundos e penetrantes – essa sempre foi sua arma. Seu cabelo, cheio de lindos cachos que teimam em não crescer, é macio como as nuvens. Sua pele, morena e macia, cobre um corpo esguio e ativo. Como toda princesa, é encantadora por natureza.
O príncipe chegou há pouco. Ainda não o conheço muito bem, mas já me apaixonei desde o primeiro instante. E sei que ele me ama também. Calmo e sereno ele vai conquistando um espaço que é todo seu no castelo. Usa seu sorriso como uma hipnose aos que o cercam. Tem feições másculas com certo toque de candura. Assim como a princesa, é o mais belo de todo o reino e sua beleza ilumina o rosto de quem o contempla. Ele vive há tão pouco tempo no castelo, mas parece que sempre esteve lá.
Todo castelo tem um guardião. O meu também.
Sua segurança e equilíbrio são imprescindíveis ao castelo. Ele guarda as torres e pode entrar livremente em cada uma. Ele vigia a ponte e cuida com todo esmero das correntes. Ele amansa os monstros do fosso e muitas vezes os repreende para que deixem as flores em paz. Ele cuida da princesa e, como ela gosta, trata-lhe como uma rainha. Ele embala o príncipe que sempre lhe paga com sorrisos. Ele não idealizou, mas ajudou na construção desse castelo e o guarda com um cuidado irretocável. O castelo não seria o mesmo sem ele.
Todo castelo tem um rei. O meu também.
O rei planejou, amou e criou o castelo à sua maneira. Digo mais, ele o criou à sua imagem. Ele ama e dá a vida pelo seu reino. Seu castelo está cheio de fendas e trincados, mas ele não se importa em cuidar e consertar quantas vezes for necessário. O rei só tem um desejo: o de ver seu castelo perfeito, em harmonia, em paz, mesmo que isso demore até a eternidade.
Pensando bem, eu não moro em um castelo. Eu sou esse castelo.

5 comentários:

  1. Lindo,lindo,lindo,filha! Você está escrevendo cada vez melhor,delicada,criativa, mas forte e segura. Você é, com certeza, esse castelo com suas torres, pontes,fosso, princesa, príncipe, guardião,rei. Estou sempre olhando com atenta admiração para esse castelo e para todos que o circundam.Ele faz parte de minha vida!

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  2. Que texto lindoooo, muito lindo mesmo amigaaa!!! Fiquei aqui a analisar, como seria o meu castelo?
    Suas palavras sempre doces, encantam meu coração com suas verdades!
    Glória a Deus pelo lindo castelo que tens!!!
    Amo muito, de todo coração!!!

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  3. Nine... que texto lindo!!!!
    Fez-me pensar no meu castelo tb.. e acho que tá na hora de chegar príncipes e princesas nele.. rsrs!
    É encantador ler suas palavras de amor à Clara e João..
    Deus os abençoe sempre!
    Bjinhos...

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  4. Quando eu crescer, quero ser como você =D

    Concordo com seu pai (ou sua mãe?) que vc está escrevendo muito bem.

    Sou fã e leitora.
    Bjs.

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  5. Meu amor,

    Esse texto ficou lindo. Gostei muito. Continue escrevendo para deliciar a nós seus leitores, e para orgulhar a mim, seu esposo.

    Te amo!

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