sábado, 2 de abril de 2011

"A vinda de João"

Esse texto foi escrito quando meu caçulinha nasceu, por meu marido, e postado em seu blog. Confesso que sou fã dO Camponês e acredito que, se você der uma passadinha lá, voltará sempre.
Ei-lo:
Quase inevitável falar de João. Ter um filho é um acontecimento fundante. O psicólogo Abraham Maslow falava de peak experiences, experiências que têm o poder de suspender o tempo e nos fazer sentir o gosto do eterno. A beleza de uma paisagem, uma música marcante, uma obra de arte e, é claro, o nascimento de um filho. Assim eu estive no dia de ontem. Encantado, espantado, desde cedo. Tive a oportunidade de estar na sala de parto e assisti-lo todo. Bati fotos. Vi meu filho vir ao mundo. É uma dádiva. Não esperem de mim lucidez. Esperem o sentimentalismo, o êxtase maravilhado. Ser pai não é coisa humana somente, é participação na paternidade divina. Os meus primeiros olhares para João tinham um quê daquele olhar admirado de Deus sobre a Criação: “Viu que tudo era bom!” Que presente é esse que Deus dá aos homens de participar assim de seu poder criador?

Entendo, entendo perfeitamemte porque a Igreja protege a sexualidade e a vida com tanto rigor, tanta exigência. No sagrado não se deve tocar sem respeito! Com Deus não se brinca! De Deus não se zomba! A sexualidade e a vida são território sagrado do qual devemos tirar as sandálias dos pés para nos aproximarmos. Eu contemplei tudo isso no nascimento de João. A delicadeza de um Deus que permite aos seus filhos  – que não merecem nada disso – gozarem de tão grande privilégio é espantosa!

Sei que esse estado de encantamento se vai na dureza dos dias. O peso da responsabilidade, a crueldade da realidade, o trabalho que a educação de um filho é, tudo isso vai nos trazendo de volta para a terra. Então chega a hora da tarefa sagrada: fazer o ordinário de forma extraordinária. Não exigir que a vida seja mágica e nem ser um cético que não quer ver os pequenos milagres cotidianos. Virtus in medio.

Mas hoje eu só queria dizer que estou vivendo a fundação de um novo tempo. Lo intelectual y lo emocional son dos carriles. En Borges convergían y por eso fue genial, disse Maria Kodama em recente entrevista. Não sou genial. Por isso, deixem-me ser óbvio, deixem-me cair em clichês. Deixem-me ser deslavadamente brega. Deixem-me babar.  Eu fico olhando para o céu e lembrando de uma frase do então cardeal Ratzinger: “Quem está nos braços de Deus, sempre cai nos braços de Deus.” Sinto-me seguro e feliz. Sei que a tarefa de ser pai é humanamente irrealizável. Mas estou nos braços do Pai. Ele me faz seguro e feliz. Pai, ensina-me a ser também assim para João, para Clara. E tranquilizo-me.
Não, nada disso é carência noética, meus amigos. Tudo isso é só amor.
Fonte: O Camponês

Um comentário:

  1. Entendo exatamente o que ele passou no post. Passei por todas essas emoções a 4 meses atrás com o nascimento da Alice.

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