sábado, 15 de dezembro de 2012

A chegada do filho e a fase de adaptação


Renata Palombo


A chegada de um filho é mágica é transformadora, mas não é nada fácil, mesmo quando muito desejada. Por mais que as pessoas nos avisem sobre isso, só compreendemos verdadeiramente quando sentimos na “pele”. Há pouco tempo, 4 pessoas próximas a mim passaram por esta fase (1 irmã e 3 amigas), e inevitavelmente me remeteram às lembranças da minha fase de adaptação. Então, decidi escrever aqui como foi tudo isso pra mim, talvez ajude outras pessoas que estejam passando por isso a pelo menos se conformarem de que não são as únicas no mundo a sofrer com isso.

Durante um bom tempo da minha vida eu não queria ter filhos, mas quando surgiu em mim o desejo de ser mãe, eu desejei intensamente e lutei de várias maneiras para que isso se tornasse realidade. Muito ansiosa que sou, sofri com a espera, tempo que serviu também para que construísse muitos sonhos e idealizações do quanto eu seria uma mãe maravilhosa e teria um filho maravilhoso e uma família maravilhosa, tudo com muita harmonia.

Depois de mais ou menos “1 ano e meio” de “gestação”, meu primeiro filho “nasceu” em nossas vidas. Foi muito delicioso ir buscá-lo!!! Enfim a resposta de nossas orações. Todos eufóricos, as felicitações dos amigos e familiares e meu sonho concretizado! Mas, diferente dos contos de fadas a história não acabou assim: “…então eles se encontraram e viveram felizes para sempre.”. Na vida real a frase foi: “… então eles se encontraram, viveram muitas mudanças e tiveram que se adaptar.”.

Acho que a primeira grande dificuldade foi a de me dar conta que minha vida nunca mais seria a mesma. Eu tinha “ganhado” alguém para cuidar para sempre e “perdido” a possibilidade de cuidar somente de mim mesma. Haveria sempre alguém a quem eu deveria atender antes de atender minhas próprias necessidades em relação a tudo: tempo, alimentação, sono, marido, TV… Teria que cuidar de mim e de mais alguém. Inevitavelmente entrei em um processo de luto/tristeza pela perda da vida anterior. Senti medo de pensar que talvez eu pudesse não gostar dessa nova vida. Medo de não dar conta dela. Não dava para voltar atrás. Comecei a sentir que era melhor não ter mexido em algo que já estava funcionando tão bem. Como não querer mais algo que eu havia lutado tanto para ter? Senti culpa.

Os amigos, familiares e conhecidos ao saberem da notícia da chegada do nosso filho nos parabenizavam com alegria e falavam das delícias de ser mãe e do amor incondicional. Apesar de contente por ver pessoas se importando comigo, o sentimento predominante era o de culpa. Culpa por estar tão cansada, culpa por estar com medo, culpa por não sentir o tal amor incondicional, por não estar feliz como as pessoas me faziam acreditar que eu deveria estar.

Assim como eu, meu filho também estava se adaptando a nova vida e aí vieram os inúmeros problemas de comportamento dos quais eu não tinha a menor ideia do que fazer. Eu enxergava seus comportamentos com intensa frustração porque ele não era o filho que eu idealizava, e mais uma vez o luto, agora pela perda do filho ideal.

Hoje eu entendo que os problemas de comportamento eram a maneira de ele expressar que também estava com medo, que também não sabia o que fazer, que também estava sofrendo com a perda da vida anterior, que também sentia culpa por não me amar incondicionalmente e por não conseguir me chamar de mãe. Ele me desafiava na tentativa de testar minha real aceitação. Mas na época eu não compreendia nada disso. Imensa frustração também por não saber o que fazer com tudo aquilo. Morre aqui a mãe que eu idealizava ser, aquela que seria capaz de dar conta de qualquer dificuldade com sabedoria e serenidade. Que nada!!! Sensação de pura impotência e impaciência. Novamente o luto/tristeza, agora pela morte da mãe ideal.

Se por um lado eu fui privada do desgaste físico por não ter parido e por nunca ter perdido uma noite de sono com meu filho, por outro lado eu fui sobrecarregada pelo desgaste emocional, pois meu filho havia “nascido” pela adoção e o significado que as pessoas davam a isso era de um imenso ato de amor, bondade e heroísmo, o que aumentava minha auto cobrança. Já que achava que tinha que dar conta de tudo sozinha e que nada podia dar errado. Aumentava também a minha culpa por não ser tão boa e por estar sentindo tantas coisas más.

Se eu tivesse parido certamente eu teria tido ajuda de algumas pessoas. Eu não tive isso, pois talvez as pessoas pensassem que por ser meu filho já crescido eu não precisava. Mero engano. Descobri que as mães puérperas precisam de ajuda não apenas porque estão debilitadas pelo parto, mas principalmente porque estão regredidas e fragilizadas emocionalmente. Confesso que também senti mágoa do mundo, pois recebi visita de apenas duas pessoas que se alegraram em vir até minha casa para conhecer meu filho recém-chegado, o que não acontece com quem recebe um filho recém-nascido.

Aconteceram também as mudanças no relacionamento conjugal que passou a não ser mais o mesmo. Eu já não tinha mais tempo para meu marido e nem ele para mim. Sempre havia um terceiro entre nós mudando uma dinâmica de seis anos. Eu não posso me queixar do meu marido que sempre foi muito parceiro em tudo, mas nossos desentendimentos aumentaram consideravelmente com a chegada do filho, pois o via agindo como pai de forma que eu não concordava e lá se ia o PAI IDEAL, trazendo luto e tristeza novamente. Assim como ele também discordava de muitas de minhas atitudes como mãe.

O fato é que hoje tudo isso passou! Eu ainda me sinto culpada, frustrada, impotente e com medos em muitas situações e meu filho continua se comportando mal em muitos momentos. Talvez eu possa ter me resignado, me acostumado, me acomodado, mas o que eu acho mesmo é que, hoje, as coisas são diferentes porque eu vivo muito mais a mãe real, com o filho real e com o pai real, embora os ideais ainda me assombrem muito.

Uma outra coisa que fez toda diferença, comparando o antes com o agora, é o amor. Amor que não surgiu da noite para o dia, mas que foi construído por meio da troca e da entrega de todos nós. Com o amor, fica mais fácil superar as dificuldades. Hoje ao lembrar de tudo o que senti e vivi, parece nem ter sido tão difícil (embora eu saiba que foi, e muito).

Eu sei que muitas mães também passaram por isso e muitas estão passando, independente das circunstâncias em que os filhos chegaram em suas vidas. Para conseguir superar essa fase tão difícil, eu fiz muitas coisas, busquei muitas ajudas. Como este post já está muito longo, escrevi no meu blog outro texto sobre as coisas que eu fiz para me ajudar na fase de adaptação. Talvez as alternativas que eu busquei possam ajudar alguém que esteja passando por isso hoje.

Embora muitas coisas são adaptações diárias e constantes, embora temos que nos adaptar a cada mudança de fase dos filhos, sou feliz porque já estamos adaptados, inclusive em saber que teremos que nos adaptar sempre…

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