domingo, 30 de junho de 2013

Mais do que a morte é tão forte esse amor!



Há 19 anos não perdia ninguém da minha família que fosse tão próximo e rezei pra que esse dia demorasse mais uns muitos anos. Mas ontem, dia 29 de junho de 2013, o Senhor decidiu ouvir os apelos constantes de minha avó. Dona Irinéa, que sempre pedia que “Deus se lembrasse dela”, foi ao Seu encontro, dormindo, como um anjo, do jeitinho que sua mãe – minha Bibi – se foi, do jeitinho que ela sempre pediu.
Quando soube da notícia, logo cedo, ao sair desesperada de casa para encontrá-la ainda em sua cama, a única oração que vinha ao meu coração era a nossa música:

Amor tão grande, amor tão forte, amor suave, amor sem fim
Que a própria morte transforma em vida abraço eterno de Deus em mim
Nem as correntes das grandes águas, conseguirão apagar esse amor
Pois suas chamas são fogo ardente mais do que a morte é tão forte esse amor
De abraço esmagante, de ausência torturante
De noite e luz é feito esse amor
De dor incomparável, consolo inestimável
De vida e cruz é feito esse amor
Nem as torrentes das grandes águas, conseguirão apagar esse amor
Pois suas chamas são fogo ardente
Mais do que a morte é tão forte esse amor


Vó, agora a senhora pode descansar... Seus pés não doerão mais, seu braço não estará mais tão pesado, suas costas estarão aliviadas, seu coração, enfim, está consolado. Mas o nosso ainda não... Seu sofazinho aqui, ao lado da mamãe, está vazio... Chegou a hora do almoço e a porta não se abriu com uma panelinha pra pegar o seu... Mas pode deixar, já lavei e pendurei a roupa da mamãe, também vou passar as que estão secas, não se preocupe... A senhora fará muita, muita falta, mas em cada coisinha que eu fizer pra cuidar da minha mãe, sua filha, será uma oração pela sua santa alma.
Sabe que ontem Clara fez questão de usar o casaquinho que a senhora deu e disse: “É pra ficar lembrando de Bibi o dia todo!” João me viu chorando e , quando Clara lhe contou que era por sua causa, ele achou que a Bibi tinha brigado comigo, mas já expliquei que não era nada disso, que a mamãe estava chorando porque já estava com muita saudade da Bibi tão amada! Aquele relógio com sua foto junto com as crianças vai ficar comigo, tá...
Obrigada, vó, por ter cuidado de mim nos meus 31 anos, desde o meu nascimento. Obrigada, por ter cuidado dos meus filhos, seus bibis. Obrigada por ter cuidado da mamãe até o fim. Obrigada por ter semeado o amor em nossa família durante seus 82 anos de vida. Obrigada por tudo........ Te amo! Pra sempre!!! Afinal, mais do que a morte é tão forte esse amor!



domingo, 16 de junho de 2013

Dica de Leitura: Bisa Bia, Bisa Bel


          Quando eu era bem pequena tive uma bisavó muito presente. Era minha verdadeira amiga, fazia roupinhas para minhas bonecas, deixava eu raspar a bacia da massa do bolo, me enchia de carinhos e elogios. Era minha Bibi.
          Certo dia, quando eu tinha por volta de 8 anos, depois de uma lindo domingo em família, o Senhor resolveu atender o pedido de Bibi e 'levá-la' para Seu convívio depois de um dia feliz e dormindo - esse era pedido recorrente em seus terços diários (aprendi a rezar o santo terço com ela inclusive). Desde então senti muito sua falta. E demorei a aceitar o fato de sua partida.
          Na escola, não me recordo bem o ano, enquanto ainda sofria com a ausência de Bibi, foi-se aplicado o livro "Bisa Bia, Bisa Bel" de Ana Maria Machado, que conta a história da relação de uma menina chamada Isabel com sua bisavó Bia que conheceu em um retrato de quando ela era pequena. De cara me identifiquei com o livro.
          Ana Maria Machado conta que escreveu esse livro pela saudade que sentia das avós e queria contar sobre elas para os filhos. Não imaginou que fosse fazer tanto sucesso, chegando a ser considerado um dos dez mais importantes livros infantis do Brasil. Sua narrativa lúdica traz as diferenças nos objetos e costumes vividos por diferentes gerações e as marcas que nossas relações amorosas deixam na nossa personalidade.
          Se você ainda não o leu, leia! Apesar de ser considerado um livro infantil, mexe muito com nossas lembranças e nos faz repensar muito do que queremos deixar como herança para nossos filhos. Esse é um daqueles livros que não basta pegá-lo na biblioteca, é preciso tê-lo em casa para que nós, nossos filhos e, um dia, nossos netos o leiam e releiam sempre.

primeira página do livro
casamento dos meus pais em 1981 -  na foto com meus bisavós - a Bibi a que me refiro é a de óculos


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Confissões à Clara (nos seus 5 anos)



          Nossa! Como o tempo voa... Outro dia mesmo você estava na minha barriga. Pisquei os olhos e você já estava andando. Nem bem me acostumei com isso e agora você já até sabe ler. Já são 5 anos!! Onde você vai parar, mocinha?! Nem quero saber o que está por vir... Namorado? Profissão? Viagens? Sair de casa??? Nem pensar!!! Você é, e pra sempre será, minha bonequinha, meu bebezinho, minha gatinha manhosa.
Porém, sei bem que isso tudo é inevitável. Percebi isso quando fui levar você e seu irmãozinho para tomarem a “gotinha”. Essa foi sua última campanha de vacinação. Meu bebê está crescendo! Foi muito estranho pra mim... é uma mistura de orgulho em vê-la tão crescida com um desespero em querer segurar os ponteiros do relógio para fazer o tempo parar.
Sinto-me assim a todo instante com você, minha filha. Desde que você nasceu todo tipo de sentimento contrastante habita em mim. A partir de você comecei a me descobrir realmente como sou. Antes da sua chegada minha vida era equilibrada, tranquila, eu tinha sempre as respostas para as questões da vida, tinha controle sobre meus instintos, vontades, pensamentos e atos. E você chegou! Tudo que eu pensava ter sob controle foi arrastado como um castelo de areia pelas ondas do mar. Me vi sem chão, chorando pelos cantos da casa por não saber o que fazer pra controlar seu choro incessante, por não conseguir te alimentar do meu próprio leite, por me sentir sozinha e, pela primeira vez na vida, não saber exatamente o quê e como fazer. Como poderia uma criança tão indefesa e inocente conseguir dilacerar o mais profundo de mim daquele jeito? Você chorava, chorava não, berrava, de olhos abertos, fitos nos meus, o que me angustiava profundamente. Hoje eu sei que você não chorava apenas por causa do refluxo ou dos gases, mas porque implorava meu amor e meu olhar de mãe. Me perdoe, minha filha, pela demora em entender seu apelo. Nada do que passei foi culpa sua. Também nem sei se foi minha...
Você foi muito sonhada e planejada. Como a mamãe já te contou diversas vezes, você é do jeitinho que pedimos a Papai do Céu: moreninha, de cabelos cacheados, rostinho de boneca, sapeca e doce... Talvez seja esse o maior problema: você era tudo o que eu sempre sonhei e eu não estava “dando conta do recado”. Você quebrou minha autossuficiência e me ensinou, dia a dia, a ser mãe. Não sou uma mãe perfeita, estou longe disso. Muitos dizem que tenho “cara de mãe”, que meu jeitinho é perfeito pra maternidade, mas nós duas sabemos que não é bem assim. Perdoa a mamãe pelos destemperos, por tudo que fiz você passar nos seus primeiros meses de vida, pela inexperiência, por não ser tudo que nós duas gostaríamos que eu fosse. Me perdoe por não brincar tanto, não ler tanto, não dar tanto colo, não pintar tanto suas unhas, não ter ainda te levado pra ver o mar nem os animais de um zoológico, nem ver Carrossel todos os dias com você. Gostaria de ser A Mãe, mas não sou... Sou apenas uma mãe, simplesmente humana, cheia de erros e defeitos, mas com muito, muito, muito amor por você, seu irmão e seu pai.
Obrigada, meu amorzinho, por ter-me feito mãe há 5 anos atrás! Obrigada por ser uma menininha tão linda, amorosa, carinhosa, esperta, sonhadora, doce, meiga, com esses olhinhos tão penetrantes e sorriso tão radiante. Obrigada por me fazer melhor a cada dia, por trazer a felicidade de volta ao meu coração depois de um dia exaustivo de trabalho. Você é minha princesinha, a dona do meu coração. Peço ao Senhor que preserve sempre seu coraçãozinho no caminho reto da santidade e que a Mãezinha do Céu cuide de você todos os dias da sua vida.
Te amo, Clara!!!


sábado, 8 de junho de 2013

Como ser mãe em uma época em que impera a lei do menor esforço?


Texto de Daniele Brito*

Não tenho a obrigação de ficar calada. Ninguém tem a obrigação de concordar. Nasce a polêmica.
Quem me acompanha, mas quem me acompanha mesmo a ponto de me conhecer minimamente, sabe que não gosto de estar envolvida em assuntos polêmicos, que geralmente entram em combustão com argumentos muito rasos para sustentar uma ideia, uma opinião. Não tenho tempo nem estômago para administrar isso.
Muita gente deve ter uma ideia equivocada sobre mim pelo fato de eu escrever sobre maternidade e postar muitas coisas relacionadas a isso na fan page do blog. Devem me achar uma super mãe, aquela que está acima do bem e do mal, que certamente não reclama de nada e que vive eternamente feliz.
Não gosto desse rótulo e muito menos o reivindiquei pra mim.
Quem me acompanha, mas quem me acompanha mesmo a ponto de me conhecer minimamente, sabe que sou uma mãe em transformação, ou melhor, uma pessoa em transformação. Escrevo mais sobre meus erros que sobre meus acertos. Escrevo ainda sobre as coisas que descubro, que me fazem entrar numa catarse sofrida e me modificam. Como mãe e como ser humano.
Fui mãe pela primeira vez em 2003. Não tínhamos redes sociais e as informações estavam todas compiladinhas em portais www. Ainda assim, procurei me cercar de uma quantidade gigantesca de informação. Fiz minhas escolhas baseadas não só nessas, mas em vivências familiares.
Como mãe, fui eu quem decidiu o parto. Desconhecia o termo violência obstétrica, achei injustas as intervenções no primeiro parto (natural), o descaso dos profissionais de saúde que me cercavam, mas nunca me ocorreu que nós – a sociedade – teríamos argumentos e força para lutar contra um modelo obstétrico em vigor há pelo menos um século. Chorei ao saber da episiotomia, mas ingenuamente, achei que fizesse parte do pacote. E contra aquilo não me voltei.
Como mãe, fui eu quem decidiu não perseverar na amamentação dos dois filhos! Quem me vê defendendo ferrenhamente a amamentação prolongada acha que amamento meus filhos até hoje! A mais velha mamou até os quatro meses, quando acabou minha licença-maternidade. Ouvindo conselhos do pediatra e de posse de informações equivocadas em revistas, julguei ter feito a minha parte. “Mamou o suficiente”, dizia. O segundo, querendo amamentar até os dois anos ou mais, com leite suficiente pra isso, fui mal orientada por um profissional da saúde. Meu filho tinha refluxo e eu, hiperlactação. Ele não conseguia mamar e eu chorava. O pediatra deu o diagnóstico: manha. E eu sucumbi ao fracasso. Tendo refluxo, nenhum outro leite seria bom pra ele como o meu.
Até bem pouco tempo – pouquíssimo tempo, aliás – tinha o maior preconceito contra a amamentação prolongada. Não sabia que era possível amamentar durante a gestação, muito menos que mulheres eram capazes de nutrir dois filhos em idades diversas. Meu desconhecimento me levou a falar muita besteira.
Como mãe, fui eu quem optou pela combo chupeta + mamadeira, reproduzindo um padrão de vivência familiar. Eu usei. Todos os meus irmãos usaram. Ninguém morreu, veja que beleza!
Como mãe, fui eu quem optou por comidas prontas que facilitariam a vida doméstica. Diminuiriam meu cansaço e sobraria mais tempo pra mim e para minha filha. Com o segundo, a coisa foi diferente. Só não sabia que seria possível revolucionar geral com a comida servida a todos nessa casa. Mudança de hábitos, consumo consciente.
Como mãe, usei de recursos que aprendi ainda na infância, como gritar e dar palmadas para dar limites e mostrar a minha autoridade de mãe, por medo de ser permissiva e omissa. Só não sabia que, com isso, estava apenas ensinando o descontrole e a falta de assertividade em resolver as querelas domésticas. Desconhecia o poder da disciplina positiva.
Essas são as minhas escolhas. Não é porque as fiz que elas estão certas.
É muito cômodo escolher o caminho fácil quando não temos informação ou quando elas nos chegam de forma parcial. E, naquela época, eu queria me cercar de facilidades.
O que estava por trás de todas essas minhas escolhas? Aprendi a me fazer essa pergunta.
Existe mesmo livre escolha?
O mercado, através de suas peças publicitárias, nos bombardeia com mensagens que nos mostram que não somos capazes, que não conseguiremos dar conta. Que precisamos de um auxílio, de um produto que facilite nossas vidas. Pode ser de bisturi a macarrão instantâneo.
Encarar o meu papel de forma consciente exige um esforço contínuo. Procuro me cercar de informação não pasteurizada, que não queira me agradar, mas que me confronte com meus próprios medos, com minhas fraquezas.
Confirmar os vínculos com meus filhos exige de mim compromisso. Mudar, quebrar paradigmas pode significar sofrimento, MAS também pode ser um antídoto, um alento. Finalmente, sair da caverna é penoso, mas é libertador.
* * * * *
Hoje, num desabafo, contei algo que vem acontecendo na casa da minha vizinha. Não nos conhecemos. Nem mesmo sei o seu nome. Coisas da vida moderna.
Sua bebê nasceu no começo do ano e só sei que é uma menina, pois vejo no varal roupinhas cor de rosa. Desde então, ouço seus choros e sua mãe falando em tatibitati. Bate aquela nostalgia! Como é bom bebê novinho em casa!
Um dia publiquei na fan page que, quando a bebê chorava prolongadamente, eu colocava a mão na parede e dizia mentalmente “Calma, amiga. Vai passar. É só uma fase.” De lá pra cá, tenho ouvido muitos gritos. Descontrolados. Altos.
Conversando com meu marido, disse que estava com pena dela. Relembramos juntos vários momentos difíceis e recordamos do tempo que achávamos que isso nunca teria um fim. Até então, não sabia que os gritos eram direcionados à bebê. Imaginei que ela gritasse com as paredes, com o marido, com a babá.
Pontualmente, a bebê acorda às 00:30. Suponho que seja para mamar. Outro dia, então, não só ouvi os gritos, como pude discernir o que exatamente aquela mãe estava falando. Mandou a bebê – que não deve ter seis meses – calar a boca várias vezes. Mandou parar de manha. Uma adulta mandando uma bebê parar de manha.
E foi isso que me deixou triste, que me fez perder o sono. Muita gente mostrou preocupação com a mãe, que deve sim estar passando por um momento difícil, que deve, inclusive, estar com depressão pós-parto. Que seja. Afinal, sabemos que amor não se impõe nem se decreta. Se constrói. Mas na hora, naquele momento, só consegui me preocupar com a criança. E se os gritos forem acompanhados de outras formas de violência? Liguei as pecinhas e deduzi (veja bem) que há tempos essa bebezinha recebe ordens para se calar, para lidar sozinha com sua natural imaturidade. A mãe é adulta e dispõe de vários recursos para procurar ajuda, mas quais recursos a bebê possui?
Na minha fofoca matinal, escrevi algo sobre não estarmos preparados emocionalmente para ter filhos: as pessoas querem um filho, mas NÃO querem passar pelo processo. Querem um filho, mas não querem um parto. Optam pela cesárea. Querem um filho, mas não querem amamentar. Optam pelo leite artificial. Querem um filho, mas não querem cuidar. Contratam uma babá (que durma no quarto, inclusive). Querem um filho, mas não querem trabalho na hora de alimentá-lo. Optam pela comida industrializada. E ainda reclamam.
De fato, não gosto desse coitadismo materno. Somos da geração do menor esforço, do prazer instantâneo (como o macarrão), do prazer individual. Não queremos problemas, queremos resultados. A coletividade nos assusta. O outro não interessa. Agimos como eternos garotos mimados, num ciclo aparentemente inquebrantável da infantilização da vida adulta.
“Sentir-se ofendido é uma forma de negação que nossa cultura impôs com grande êxito”, como bem salienta Sergio Sinay.
A maternidade não pode ser vista como satisfação imediata de prazeres só porque a fantasiamos como um simples exercício de manipulação de um painel de controle.
Queremos as facilidades.
Dizem, entre sorrisos e músicas alegres nos comerciais da TV, que não precisamos de regras para criarmos nossos filhos. Como se isso pudesse ser de alguma forma libertador.
De fato, não precisamos de regras.
Precisamos de compromisso, responsabilidade, cumplicidade e ética.

*Daniele tem 32 anos e é estudante de Direito, mãe da Bia, de 9 anos, e do Otto, de 4, mora em Florianópolis/ SC e é autora do blog Balzaca Materna.

domingo, 2 de junho de 2013

Dica de Leitura: Poesia na Varanda

          Qual é a criança que não se derrete toda quando o papai ou a mamãe chegam com um belo livro e o contam com prazer e ternura?
          O Poesia na Varanda é um ótimo livro para os pequeninos e ideal para ser lido à cama. Com versos claros e suaves, Sonia Junqueira faz brotar poesia não somente do chão, mas das folhas de um belo livro. As ilustrações de Flávio Vargas dão vida às suas palavras e nos encantam de maneira profunda.
          Fica a dica ;)